Impacto das eleições dos EUA no Brasil

Haddad diz que dia "amanheceu mais tenso"

Por Karoline Cavalcante

Celso Amorim diz esperar relação pragmática entre as nações

Com a vitória, Donald Trump (Partido Republicano) retorna ao comando da maior potência mundial. E o próximo período promete ser de intensos desafios e mudanças, tanto para os Estados Unidos da América, quanto para o cenário internacional. O Brasil também será impactado com o resultado das eleições.

Em avaliação da internacionalista Elisa Ribeiro, entre os efeitos geopolíticos, os EUA podem adotar uma política de maior controle sobre a influência de potências rivais (como a China) na América Latina. “Possivelmente instigando o Brasil a adotar uma postura mais alinhada aos interesses americanos em questões regionais e econômicas”, disse.

Após atingir a quantidade mínima dos votos para ser declarado o vencedor, Trump prometeu fechar as fronteiras do país em seu discurso. “Se tivermos que esperar mais tempo, não sei, estava indo mal e rápido, teremos que selar essas fronteiras e deixar as pessoas entrarem em nosso país. Queremos que as pessoas voltem, mas temos que deixá-las voltar de forma legal”, declarou.

Ribeiro observou que essa esperada ênfase em políticas duras de controle imigratório pode afetar parcerias em segurança e influenciar “no fluxo de imigração e deportações de brasileiros nos EUA”.“A política de imigração mais rígida poderia levar a restrições adicionais no processo de obtenção de vistos, dificultando viagens e turismo de brasileiros para os EUA e vice-versa”, acrescentou.

Tenso

O presidente da República brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), havia manifestado apoio a adversária de Trump, Kamala Harris (Partido Democrata), e, ainda que tenha desejado parabéns ao novo líder norte-americano, representantes do governo brasileiro fizeram fortes declarações sobre o resultado do pleito.

Em entrevista à imprensa nesta quarta-feira (6), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, argumentou que o dia "amanheceu mais tenso" com a vitória do candidato republicano.

"Na campanha foram ditas muitas coisas que causam a apreensão não só no Brasil, mas no mundo inteiro. Causam apreensão nos mercados emergentes, causam apreensão nos países endividados, na Europa. Então, o dia amanheceu, no mundo, mais tenso em função do que foi dito na campanha", afirmou o chefe da pasta.

O assessor especial da Presidência da República para assuntos internacionais, embaixador Celso Amorim, também disse nesta quarta-feira que espera uma relação pragmática do presidente norte-americano eleito com o governo brasileiro. Ele comparou com o ex-presidente dos EUA, George W. Bush (Republicano) que esteve no poder de 2003 a 2008 e manteve uma boa relação com Lula. A fala foi feita para a Folha de São Paulo.