Atentado adia discussão sobre PL da Anistia
Especialista enxerga que projeto perdeu força com o ocorrido
Seguem as investigações acerca do atentado com explosivos realizado por Francisco Wanderley Luiz, na última quarta-feira (13), na Praça dos Três Poderes. Mas enquanto a Polícia Federal (PF) e demais entidades de segurança da capital federal investigam o caso, como adiantado pelo Correio da Manhã, a expectativa é que o ato pode prejudicar a tramitação do projeto de lei que concede anistia aos envolvidos nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023. A avaliação é do cientista político Rócio Barreto, que vê no ataque uma complicação para as discussões políticas sobre segurança, justiça e perdão aos responsáveis pela invasão das sedes do Palácio do Planalto, Congresso Nacional e Supremo Tribunal Federal (STF).
“Nesse movimento, apesar de ser considerado um fato isolado, com as pessoas o chamando de ‘lobo solitário’, de forma nenhuma podemos relativizar esse acontecimento. Se a gente considerar esse fato como isolado, estaremos dando cobertura e uma espécie de anistia para que outras pessoas possam cometer o mesmo tipo de crime, apesar de ter sido usado apenas bombas de efeito pequeno, se podemos chamar assim", afirmou Barreto ao Correio da Manhã.
Segundo o cientista político, o ataque afetou diretamente o debate sobre o PL da Anistia (PL 2858/2022), que perdeu força com o ocorrido. Ele acredita que não haverá mais discussões e votações sobre o projeto neste ano.
“Quanto ao PL da Anistia, pode ter certeza de que isso [atentado] impactou de forma direta e considerável. Tanto é que já há manifestações de ministros e pessoas ligadas aos ministros do STF, dizendo que o debate sobre a anistia perdeu toda força e explodiu junto com as bombas que essa pessoa lançou", explicou.
Bolsonaro
Barreto também aponta que o ataque dificulta a reversão da inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), uma vez que, segundo ele, os eventos de 8 de janeiro e o atentado estão interligados.
“Esse atentado na Praça dos Três Poderes dificulta bastante o processo de reversão da inelegibilidade do ex-presidente Bolsonaro, porque essa tentativa de reversão está muito atrelada ao PL da Anistia”, inicia.
“Ambos os eventos estão relacionados: o ocorrido no dia 8 de janeiro está ligado diretamente ao ex-presidente Bolsonaro e completamente contra o presidente Lula, já que as pessoas não queriam que Lula tomasse posse e desejavam que Bolsonaro permanecesse no poder. Eles queriam um golpe militar, com Bolsonaro no comando. Então, esse atentado complica bastante essa situação e coloca as discussões em condições totalmente inapropriadas”, acrescenta o especialista.
Atentado
O atentado ocorreu por volta das 19h30 da última quarta-feira (13), quando o chaveiro Francisco Wanderley Luiz, de 59 anos, conhecido como "Tiu França", tentou entrar no Supremo Tribunal Federal portando explosivos. Ao ser abordado pelos seguranças, ele atirou artefatos em direção à escultura "A Justiça", em frente ao prédio da Corte, e acendeu um explosivo no próprio corpo, o que resultou em sua morte imediata. A Polícia Federal investiga o caso como um ato terrorista e apura se Wanderley agiu sozinho ou se teve apoio de outras pessoas.
Nesta segunda-feira (18), a PF convocou a dona do imóvel alugado por Francisco Wanderley Luiz para prestar depoimento sobre o caso.
Também foram encontrados artefatos explosivos na casa onde ele estava hospedado, em Ceilândia, e em um carro no estacionamento de um prédio próximo ao Congresso Nacional. Além disso, o chaveiro foi candidato a vereador pelo PL no Rio do Sul, em Santa Catarina, nas eleições de 2020, e, segundo familiares, estava obcecado por política, com um comportamento cada vez mais radical nos últimos anos.