PF indicia Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado
Ex-presidente afirma que Moraes "faz tudo o que não diz a lei"
A Polícia Federal indiciou nesta quinta-feira (21), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o ex-ministro da Defesa Walter Souza Braga Netto e outras 35 pessoas em investigação que apurou a existência de uma suposta organização criminosa responsável por planejar um golpe de Estado nas eleições de 2022. O plano incluía o assassinato do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, que, na época, presidia o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Horas depois de ser indiciado, Bolsonaro criticou Moraes, relator do inquérito, afirmando que ele “faz tudo o que não diz a lei”. "O ministro Alexandre de Moraes conduz todo o inquérito, ajusta depoimentos, prende sem denúncia, faz pesca probatória e tem uma assessoria bastante criativa. Faz tudo o que não diz a lei", afirmou em entrevista ao Portal Metrópoles.
Em discurso no Palácio do Planalto, Lula comentou pela primeira vez sobre o assunto. “Eu tenho que agradecer, agora, muito mais porque eu estou vivo. A tentativa de me envenenar, eu e o Alckmin, não deu certo, nós estamos aqui”, iniciou. “E eu não quero envenenar ninguém, eu não quero nem perseguir ninguém. A única coisa que eu quero é, quando terminar o meu mandato, que a gente desmoralize com números aqueles que governaram antes de nós”, acrescentou o presidente.
Inquérito
De acordo com a PF, as provas foram obtidas por meio de diversas diligências policiais realizadas ao longo de quase dois anos, com base em quebra de sigilos telemático, telefônico, bancário, fiscal, colaboração premiada, buscas e apreensões, entre outras medidas devidamente autorizadas pelo poder Judiciário.
A individualização das condutas foi possível pois os investigados se estruturaram por meio de divisão de tarefas em seis grupos: o Núcleo de Desinformação e Ataques ao Sistema Eleitoral; Núcleo Responsável por Incitar Militares à Aderirem ao Golpe de Estado; Núcleo Jurídico; Núcleo Operacional de Apoio às Ações Golpistas; Núcleo de Inteligência Paralela; e o Núcleo Operacional para Cumprimento de Medidas Coercitivas.
A Polícia Federal encerrou as investigações e o relatório final foi encaminhado ao STF. No documento, as 37 pessoas foram indiciadas pelos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa.
Além dos nomes citados, fazem parte da lista: Ailton Gonçalves Moraes Barros, Alexandre Castilho Bitencourt Da Silva, Alexandre Rodrigues Ramagem, Almir Garnier Santos, Amauri Feres Saad, Anderson Gustavo Torres, Anderson Lima De Moura, Angelo Martins Denicoli, Augusto Heleno Ribeiro Pereira, Bernardo Romao Correa Netto, Carlos Cesar Moretzsohn Rocha, Carlos Giovani Delevati Pasini, Cleverson Ney Magalhães, Estevam Cals Theophilo Gaspar De Oliveira, Fabrício Moreira De Bastos, Filipe Garcia Martins, Fernando Cerimedo, Giancarlo Gomes Rodrigues, Guilherme Marques De Almeida, Hélio Ferreira Lima, José Eduardo De Oliveira E Silva, Laercio Vergilio, Marcelo Bormevet, Marcelo Costa Câmara, Mario Fernandes, Mauro Cesar Barbosa Cid, Nilton Diniz Rodrigues, Paulo Renato De Oliveira Figueiredo Filho, Paulo Sérgio Nogueira De Oliveira, Rafael Martins De Oliveira, Ronald Ferreira De Araujo Junior, Sergio Ricardo Cavaliere De Medeiros, Tércio Arnaud Tomaz, Valdemar Costa Neto e Wladimir Matos Soares.
Operação Contragolpe
Na terça-feira (19), a PF prendeu preventivamente quatro militares das Forças Especiais e um policial federal envolvidos com a suposta organização criminosa. De acordo com as apurações, foi identificado um planejamento operacional denominado “Punhal Verde e Amarelo”, que seria executado no dia 15 de dezembro de 2022, com o objetivo de impedir a posse do governo eleito naquele ano.
O planejamento detalhado pelos investigados contemplava a utilização de recursos humanos e bélicos para a execução das ações, incluindo técnicas militares avançadas. Além disso, previa a criação de um “gabinete institucional de gestão de crise”, que seria integrado pelos próprios investigados para gerenciar os conflitos institucionais gerados a partir dos ataques.