STF prorroga prazo de discussão de Marco Temporal para 2025

Ministro Gilmar Mendes defende que complexidade do tema exige maior tempo de discussão

Por Gabriela Gallo

Integrantes da Apib se retiraram da discussão em agosto

Os trabalhos de audiência de conciliação sobre a Lei do Marco Temporal (Lei 14.701/2023) de demarcação de terras indígenas que acontece no Supremo Tribunal Federal (STF) foi prorrogado para até 28 de fevereiro de 2025. O novo prazo foi estipulado pelo ministro da Suprema Corte Gilmar Mendes, que é relator de cinco ações encaminhadas ao tribunal que discutem a constitucionalidade da Lei do Marco Temporal.

Inicialmente, as audiências de conciliação sobre o tema estavam previstas para se encerrarem em 18 de dezembro deste ano. Em decisão publicada na última quinta-feira (21), o magistrado alega que o prazo foi prorrogado em decorrência da “complexidade das questões controvertidas, que ensejou a instauração da Comissão Especial e justifica o aprofundamento fático a que se dedicam seus membros”.

Relembre

O marco temporal de demarcação de terras indígenas determina que os povos indígenas têm direito apenas às terras que ocupavam ou já disputavam em 5 de outubro de 1988, data de promulgação da Constituição. O tema gerou um cabo de guerra entre os poderes Legislativo e Judiciário. Pouco após o STF julgar o texto base do marco temporal como inconstitucional, o Congresso Nacional editou a Lei 14.701/2023, restabelecendo-o e retomando a discussão.

A proposta é que a comissão negocie um acordo sobre a demarcação de terras indígenas em todas as partes. A comissão inicialmente era composta por seis representantes indicados pela Articulação dos Povos Indígenas (Apib), seis parlamentares indicados pelo Congresso Nacional, quatro integrantes indicados pelo governo federal e dois integrantes dos estados e um dos municípios. Além disso, os autores das ações entregues ao STF, sendo partidos políticos e associações, também podem indicar um representante para compor o grupo.

Pouco antes dos debates começaram, a escolha dos representantes do Congresso, em especial da Câmara dos Deputados, foi alvo de críticas por aqueles que são contrários à medida. Na Câmara, os deputados Pedro Lupion (PP-PR) e Bia Kicis (PL-DF), ambos favoráveis à tese, são os representantes títulares da comissão. Os suplentes são a deputada indígena Célia Xakriabá (Psol-MG) e o deputado Lucio Mosquini (MDB-RO). Pedro Lupion e Lucio Mosquini são membros da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) e Bia Kicis compõem o movimento “Invasão Zero”, criado por produtores rurais contra ocupações em territórios rurais – principal discussão sobre a demarcação.

Em agosto deste ano, a Articulação dos Povos Indígenas, que é a principal entidade que atua na defesa dos indígenas, se retirou do debate, alegando que os direitos indígenas dos povos originários são indiscutíveis e não há paridade no debate.

As audiências, todavia, continuaram mesmo sem a presença indígena.