Por: Rudolfo Lago

Reforma ministerial pode acontecer em janeiro

Pimenta é uma das possíveis trocas, mas não a única | Foto: José Cruz/Agência Brasil

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, explicitou a insatisfação na semana passada. Ao conversar com jornalistas na sexta-feira (20), Haddad jogou a responsabilidade pelas consequências do anúncio do pacote de corte de gastos à comunicação do governo.

Depois que Haddad anunciou o pacote, que o Congresso terminou de votar na semana passada, as bolsas de valores caíram e o dólar bateu recordes de alta. Chegou a ser cotado a R$ 6,30. Baixou depois que o Banco Central se viu obrigado a intervir, e com a ajuda da própria sinalização da aprovação do pacote. Mas ainda permanece no desconfortável patamar acima de R$ 6.

A avaliação de Haddad, no caso, coincide com a do mercado. Com receio de somente dar as más notícias da necessidade de cortar em áreas sensíveis, como as regras de reajuste do salário-mínimo e benefícios sociais, o governo misturou uma promessa de campanha de aumento do limite de isenção do Imposto de Renda. Era uma mensagem de sinais trocados. Como um governo que precisa fazer cortes em áreas sensíveis, ao mesmo tempo comunica disposição de abrir mão de parte da sua arrecadação?

Pimenta

A crítica explícita de Haddad apertou ainda mais o nó no pescoço do ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência, Paulo Pimenta. Na verdade, chegou a haver este ano um plano de saída por cima de Pimenta, quando ele foi deslocado para ser ministro extraordinário para a reconstrução do Rio Grande do Sul. A ideia é que ele fosse a cara do esforço federal para sanar os efeitos das enchentes, levar o PT a ganhar a prefeitura de Porto Alegre e iniciar assim uma retomada de popularidade do governo na região Sul.

No início, o plano deu certo. As ações fizeram a popularidade do governo crescer no Sul. Mas não foram suficientes para vencer em Porto Alegre, onde o prefeito Sebastião Melo (MDB) acabou reeleito. Pimenta retornou à comunicação do governo.

Após Haddad, outros ministros planejavam explicitar com Lula a necessidade da troca. Os problemas de saúde do presidente com a cirurgia que teve que fazer após a queda que sofreu no Palácio da Alvorada adiaram tais conversas. Mas mesmo Lula já deus sinais de que a troca de Pimenta está próxima. Não fosse a queda e suas consequências, ela talvez já tivesse acontecido.

Janja

O nome mais forte para substituir Pimenta é o marqueteiro Sidônio Palmeira, que, porém, resiste. Sidônio foi o responsável pela vitoriosa campanha de Lula nas eleições presidenciais de 2022. Além do fato de ter que abrir mão do comando dos seus negócios caso aceite ser ministro, Sidônio quer garantias de que terá autonomia no seu trabalho. Um dos problemas que envolve a comunicação do governo é a existência ali de fortes disputas internas.

Depois de um forte cabo-de-guerra com o fotógrafo de Lula, Ricardo Stuckert, a primeira-dama Janja da Silva obteve o controle das redes sociais do presidente, que hoje estão nas mãos de Brunna Rosa, ligada a Janja. Toda a comunicação do estado de saúde de Lula na cirurgia e na sua convalescência teve também de passar pelo crivo de Janja.

Política

Outra área em que há forte pressão para mudança é a articulação política. As desavenças do líder do Centrão, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), com o ministro da Articulação Política, Alexandre Padilha, são notórias. As dificuldades na negociação da aprovação do pacote de corte de gastos acentuaram os problemas.

Lira tem dito que, hoje, a base fiel do governo na Câmara, não passa de, no máximo, 12% dos deputados. No caso do pacote, houve problemas mesmo com essa base por não querer se comprometer com o desgaste de cortes na área social. O Psol posicionou-se contrário, e mesmo três deputados do PT votaram contra.

O governo, assim, precisa negociar votos com o Centrão. Nesse sentido, o Centrão sustenta que precisa estar mais bem representado com o governo. Que precisaria estar representado nesse núcleo palaciano que faz a articulação com o Congresso. Hoje, esse núcleo, com Padilha e o ministro da Casa Civil, Rui Costa, é todo do PT.

Defesa

Demonstrações do ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, apontam para a possibilidade de essa área também entrar na reforma ministerial. Aos 76 anos, Múcio dá sinais de que deseja sair. Afirma que “sua missão” na área já teria se completado.

Na semana passada, Múcio teve uma conversa com Lula. Que não deseja que ele deixe o ministério. Há uma possibilidade de que as relações no meio militar tornem-se mais delicadas à medida que avançam as investigações sobre os atos antidemocráticos e a tentativa de golpe de Estado. A prisão de Walter Braga Netto colocou pela primeira vez um general de quatro estrelas preso por determinação da justiça comum. Outras prisões e condenações deverão acontecer.

José Múcio conduz essas negociações como uma espécie de algodão entre cristais. Muitas vezes, porém, se desgastando com os setores mais à esquerda, que atribuem a ele condescendência demais com os militares. Um desgaste para o qual o ministro dá sinais de cansaço.

A tendência é que janeiro demonstre a afinação dessas mudanças. Com a possibilidade de um novo desenho da Esplanada dos Ministérios antes mesmo do retorno do Congresso em fevereiro, após o recesso.