Apesar das tensões, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Bets, que investiga o impacto das apostas online ilegais no Brasil, promete seguir firme em 2025. Embora o Congresso esteja de recesso, a relatora da comissão, senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), garantiu que a equipe de trabalho permanecerá ativa, e que os esforços de investigação não serão interrompidos.
Durante a última reunião do ano, realizada em 17 de dezembro, a superintendente de Fiscalização da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Gesilea Fonseca Teles, reforçou a necessidade de ampliar os poderes da autarquia para combater as apostas ilegais, segundo ela, desde outubro de 2024, a Anatel já atuou no bloqueio de mais de 8.560 sites.
“E como que funciona esse bloqueio? O Ministério da Fazenda nos encaminha uma lista com sites que devem ser bloqueados. A Anatel, de posse dessa lista, comunica às prestadoras que dão acesso à internet”, disse Gesilea Teles. “Todo esse procedimento que a Anatel adota, a gente não consegue ter ingerência sobre a rede das operadoras. O que a gente faz é meramente uma comunicação de uma decisão que não é de nossa competência”, explicou.
Na ocasião, Thronicke também falou sobre os desafios enfrentados pela comissão, incluindo as graves ameaças e pressões. Ela relatou que, diante das denúncias que começaram a surgir, procurou a diretor-geral da Polícia Federal e se colocou à disposição para colaborar com as investigações autorizando a quebra de seus sigilos fiscal, bancário e telemático.
“Eu fui ameaçada e stalkeada. É importante que a população brasileira saiba: independentemente de qualquer investida contra a CPI, ou contra membros da CPI, nós vamos até o fim”, afirmou a senadora.
A CPI, presidida pelo senador Dr. Hiran (PP-RR), foi instalada no início de novembro, e, segundo a ementa, terá a duração de 130 dias com um limite de despesas de R$ 110 mil. O conteúdo do plano de trabalho identifica objetivos de desdobramentos divididos em oito eixos temáticos, que são: lavagem de dinheiro e evasão de divisas; direito do consumidor; transações financeiras; impactos socioeconômicos; publicidade e responsabilidade social; algoritmos e transparência nas plataformas de apostas; educação e conscientização; e impactos sobre a saúde.
Soraya Thronicke também comentou ao Correio da Manhã sobre sua posição pessoal em relação ao jogo, destacando que, embora não tenha interesse por apostas, reconhece a gravidade do problema para o país. “Sinceramente, eu não sei jogar nem baralho. Não consigo nem dizer os nomes dos naipes. Mas entendo que tudo que se torna um vício precisa de controle. Não é porque não jogo e não me interesso que o problema deixa de existir. Precisamos investigar todas as possíveis ilegalidades nesses jogos, porque temos visto famílias destruídas, pessoas se suicidando e, por fim, influenciadores e empresas lucrando bilhões”, disse.
Sobre a contribuição que poderá trazer, a relatora acredita que a investigação entrega ao cidadão informações que ele não receberia de outra forma. “A CPI tem um condão pedagógico muito grande. Por ser televisionada e por toda a imprensa acompanhar, conseguimos levar ao cidadão informações que ele não teria caso as investigações corresse em segredo de justiça. A população precisa ter ciência de como funcionam os jogos de azar online”, finalizou a senadora.