Governo libera R$ 7,8 bi, mas problema das emendas continua

Problema é maior entrave para aprovação do pacote fiscal

Por Gabriela Gallo

Falta de acordo sobre emendas dificulta vida de Lula

Um dos principais entraves em relação ao pacote fiscal no Congresso Nacional e a Lei de Diretrizes Orçamentária (LDO) para 2025 se trata das emendas parlamentares – e a insatisfação de parlamentares com as exigências do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Flávio Dino. Nesta sexta-feira (6), o governo federal libera R$ 7,8 bilhões em emendas individuais e de bancada. Os recursos serão pagos por oito ministérios e, do montante que será pago, metade (R$ 4,1 bilhões) é do Ministério da Saúde.

A liberação, no entanto, não deverá amenizar o ambiente. Ela se refere às emendas que já se encaixam nos critérios mais rígidos de transparência e rastreabilidade exigidos por Dino. Mas há ainda outras R$ 25 bilhões em emenda fora desse critério que o Congresso insiste receber.

Dentre as exigências de Dino para liberar as emendas, que estavam suspensas de agosto, ele determina que as emendas só podem ser executadas após o solicitante ser identificado no Portal da Transparência. Os demais ministros da Corte aprovaram as medidas. Além disso, o magistrado determinou que as emendas voltadas para a saúde precisam ser aprovadas por uma comissão tripartite do Sistema Único de Saúde (SUS) e pelo gestor federal e as emendas Pix precisarão ter um plano de trabalho.

Burocracias

Diversos congressistas divergem do que foi solicitado, alegando que as medidas gerarão uma série de burocracias que. Deputados e senadores consideram que a lei sancionada já garantia os critérios de transparência e rastreabilidade, que eram a exigência inicial do STF.

Nessa linha, a Advocacia-Geral da União (AGU) entrou com um recurso no Supremo solicitando que a Corte reconsidere parcialmente as medidas.

Enquanto o governo se desdobra com o Legislativo quanto às emendas, a Comissão Mista de Orçamento (CMO) do Congresso finaliza o relatório final para o orçamento de 2025. Juntando todas as proposições das comissões permanentes do Senado, soma-se uma despesa de mais de R$ 48 bilhões de emendas, que serão analisadas pelo relator-geral do Orçamento, senador Angelo Coronel (PSD-BA).

Bloqueio

Além das exigências de Flávio Dino, o advogado Isaac Pereira Simas relembrou que um trecho do Projeto de Lei Complementar (PLP) 210/2024 pode gerar problemas entre os parlamentares com o governo. O trecho autoriza ao poder Executivo bloquear e contingenciar emendas parlamentares até a mesma proporção aplicada às demais despesas discricionárias – ambos limitadas a 15% do valor. A medida desagradou parlamentares já que a recente Lei Complementar 210/2024, que altera as regras de transferência das emendas parlamentares, estabelecia o contingenciamento dos recursos, mas não o bloqueio.

“O Congresso Nacional teve nos últimos anos um aumento exponencial do poder sobre o orçamento”, avalia o advogado. E disso, completa, não irá abrir mão. “Eu acho muito difícil o Congresso aceitar a trava que foi imposta”, declarou.

“É preciso levar em consideração também a questão dos prefeitos. Porque muitos dos prefeitos foram reeleitos por conta desse empoderamento orçamentário do Congresso. Então, não faz muito sentido eles votarem a favor disso. O próprio Congresso não deve votar um freio a esse poder que conquistou”.