Braga Netto deverá ser ouvido nos próximos dias
Preso no sábado (14), expectativa é que general preste novo depoimento esta semana
O maior tema de especulações nesta segunda-feira (16) no Congresso Nacional, onde já houve sessão na Câmara, centrava-se em avaliar o que fará o general Walter Braga Netto, depois de ter sido preso no sábado (14). Braga Netto está preso no Comando da 1a Divisão do Exército, no Rio de Janeiro. E a expectativa é de que ele preste novos depoimentos à Polícia Federal ainda esta semana.
As especulações giravam em torno de como será agora seu comportamento. Apontado a essa altura pelo tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de Ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, como um dos principais artífices da tentativa de golpe de Estado no país, para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Braga Netto permanecerá em silêncio ou, como Mauro Cid, também poderá vir a fazer acordo para auxiliar as investigações e reduzir uma eventual condenação?
Segundo as informações, Braga Netto foi preso especialmente a partir das informações prestadas por Mauro Cid em seu último depoimento. Confrontado, o ex-ajudante de Ordens confirmou informações sobre o papel do general, que foi o candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro, derrotada por Lula nas eleições presidenciais de 2022. Mauro Cid afirmara que reuniões a respeito do golpe aconteceram no apartamento que Braga Netto ocupava em Brasília. E que ele teria repassado dinheiro aos chamados “kids pretos”, militares de grupo de elite envolvidos nas operações. Tal dinheiro viria de financiadores ligados ao agronegócio.
Mauro Cid disse ainda, conforme as informações, que Braga Netto buscava contato com seu pai, o general Lourena Cid, com o intuito de tentar desestimular o tenente-coronel a fazer novas revelações. Foi por esse motivo, por eventual tentativa de obstrução das investigações, que se determinou a prisão de Braga Netto.
Colaboração
Tais informações, assim, colocam o general de quatro estrelas como artífice da tentativa de golpe. O que poderia levar, ao final do processo e julgamento, a uma condenação com pena alta contra o general. Daí as especulações. Braga se manteria calado, assumindo eventuais responsabilidades, ou, como fez Mauro Cid, faria uma colaboração com o intuito de reduzir sua pena?
Até o fechamento da edição, não estava marcado o novo depoimento de Braga Netto. Sua defesa, desde o momento da prisão, nega seu envolvimento em qualquer tentativa de golpe. E também quanto a ele tentar obstruir eventuais investigações.
A colaboração de Braga Netto é considerado algo improvável. Mas também não havia muitas pessoas que apostavam que Mauro Cid colaboraria. Há, porém, uma diferença grande entre o papel do ex-ajudante de Ordens no que está sendo investigado e o de Braga Netto. Mauro Cid era um assessor. Um eventual operador das ordens que recebia. Seja no caso dos atos antidemocráticos, seja nos demais inquéritos em que está implicada, da falsificação de certificado de vacina e da venda de joias recebidas de presente pelo governo.
Já Braga Netto é apontado como um dos autores do projeto de tentativa de abolição violenta da democracia brasileira. As implicações contra ele são, portanto, maiores.
Prisão
Ainda não há certeza sobre se Braga Netto seguirá preso no 1o Comando no Rio de Janeiro ou se pode acabar sendo transferido para Brasília. O espaço em que o general se encontra é destinado a generais de três estrelas. Ele tem quatro. Mesmo o comandante do espaço tem patente militar mais baixa que ele.
O espaço em que o general se encontra preso tem banheiro privativo, ar-condicionado e televisão.
Questões
Independentemente da disposição ou não de o general colaborar, há questões que a Polícia Federal quer saber dele. O general, de fato, conversou nos últimos dias com o pai de Mauro Cid, o general Lourena Cid? O que conversaram? Braga Netto, de fato, tentou obstruir as investigações? Pediu a Lourena Cid para que ele interviesse no sentido de fazer Mauro Cid parar de falar?
Os investigadores também buscam mais detalhes sobre o golpe que estaria em curso. Quem mais estava envolvido? Quem eram os operadores? Quem eram os financiadores? O que se pretendia fazer?
E, finalmente, a pergunta crucial: até que ponto estaria envolvido o ex-presidente Jair Bolsonaro? Ele sabia das articulações? As autorizava? Estava envolvido nelas? Outras pessoas próximas, como o general Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência, estava também envolvido?
Tudo o que Braga Netto falar ou deixar de falar será confrontado com outros documentos a essa altura já obtidos. É também assim que tem sido feito com Mauro Cid. A Polícia Federal tem a impressão de que Mauro Cid tenta ainda defender envolvidos. Mas, a cada depoimento, ele é confrontado com novas informações. Para não perder o benefício da colaboração, ele, então, acaba admitindo mais coisas.