Por: Karoline Cavalcante

Se houver convite, representante brasileira irá à posse de Maduro

Presença de embaixadora brasileira dependerá do convite venezuelano | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O governo brasileiro está preparando a possível ida de sua embaixadora em Caracas, Glivânia Maria de Oliveira, para a cerimônia de posse do presidente Nicolás Maduro (Psuv), marcada para sexta-feira (10) na Venezuela. Contudo, a presença depende do envio do convite oficial por parte das autoridades venezuelanas, que ainda não foi formalizado.

De qualquer forma, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não poderia comparecer à cerimônia, visto que está impedido de realizar viagens longas por conta de sua recuperação de um recente procedimento médico realizado para drenar uma hemorragia intracraniana, decorrente de uma queda sofrida em outubro.

Na avaliação do cientista político Kleber Carrilho, a decisão de enviar a representante não é um gesto para além do protocolo. “Mesmo com convite, enviar a embaixadora é algo que não sai da formalidade mínima, o que não representa uma retomada da ‘amizade’ com Maduro”, iniciou.

EUA

Carrilho aponta também que o momento é “realmente muito complexo para o governo Lula”, que precisará pensar também nas relações com os Estados Unidos da América, que empossará o presidente eleito Donald Trump (Republicano) no dia 20 de janeiro. O chefe do Palácio do Planalto havia declarado apoio à adversária de Trump, a candidata Kamala Harris (Democrata), ou seja, agora o Brasil precisará de mais cautela. “Se der uma importância muito grande à posse de Maduro, enviando o chanceler, o vice ou indo o próprio presidente, pode haver um início de relação ainda mais azedo com Trump”, acrescentou o cientista político.

Legitimidade

A internacionalista Elisa Ribeiro, avalia ainda que a presença de Gilvânia será bem vista pelo país vizinho, pois dará legitimidade à posse. Mas, a relação deverá se manter “nos moldes dos últimos meses, com dissidências e tentativas de manter a resiliência no trato bilateral”.

“A relação entre Brasil e Venezuela é essencial para a estabilidade na América do Sul. O Brasil têm atuado, individualmente e com outros países da região, para arrefecer os ânimos e manter o equilíbrio no relacionamento, ao mesmo tempo em que zela pela soberania nacional e pela autodeterminação e pelos Direitos Humanos dos venezuelanos”, explicou Elisa Ribeiro.

Oposição

Edmundo González (Pud), principal opositor de Maduro, atualmente exilado na Espanha, anunciou que retornará à Venezuela para assumir a presidência e convocou manifestações para o dia da posse. “Quero pedir a todos os venezuelanos que assumamos juntos o compromisso de fazer valer esse mandato em 2025. Vejo vocês nas ruas do nosso amado país”, escreveu ele nas redes sociais.

Em resposta, o governo venezuelano ofereceu uma recompensa de US$ 100 mil por informações sobre o paradeiro de González, acusado de incitar um golpe de Estado por não reconhecer o resultado oficial das eleições.

Tensões diplomáticas

Embora Brasil e Venezuela compartilhem uma aliança histórica, as relações entre os dois países se deterioraram após o governo brasileiro não ter reconhecido a reeleição de Nicolás Maduro, em agosto de 2024. O Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) da Venezuela validou a eleição, mas não divulgou os resultados completos das urnas, o que levou o Brasil a se unir a Colômbia e México em uma pressão para a divulgação das atas eleitorais. O governo brasileiro se manteve cauteloso, optando por não reconhecer oficialmente a vitória de Maduro sem a comprovação independente dos resultados.

A situação se agravou ainda mais em outubro, durante a cúpula do BRICS, quando o Brasil vetou a entrada da Venezuela no bloco, decisão que gerou forte desaprovação por parte do governo de Maduro.