Por: Gabriela Gallo

Meta derrubará programa de verificação de notícias falsas

Decisão tira da plataforma a responsabilidade | Foto: Wilson Dias/Agência Brasil

Uma mudança no ramo da tecnologia pode trazer desafios no combate à desinformação. Nesta terça-feira (7), a empresa Meta anunciou que encerrará o seu programa de verificação de fatos. Em seu lugar, a empresa dona das redes sociais Facebook, Instagram e Whatsapp anunciou que serão adotadas as chamadas “notas de comunidade”, medida adotada pela rede social “X” (antigo twitter). Segundo o dono da Meta, o bilionário Mark Zuckerberg, a medida visa garantir a plena “liberdade de expressão” entre os usuários das redes. “É hora de voltarmos às nossas raízes: a total liberdade de expressão no Facebook e no Instagram”, ele declarou em uma publicação no instagram nesta terça.

“Criamos muitos sistemas complexos para moderar o conteúdo. Mas o problema dos sistemas complexos é que eles cometem erros. Mesmo que eles acidentalmente censurem apenas 1% dos posts, isso representa milhões de pessoas. E chegamos a um ponto que são erros demais e censura demais”, declarou Zuckerberg.

“Desde que Trump foi eleito pela primeira vez em 2016, a mídia tradicional não parou de escrever sobre como a desinformação era uma ameaça à democracia. Tentamos, de boa-fé, abordar essas preocupações sem nos tornarmos árbitros da verdade, mas os verificadores de fatos se mostraram excessivamente tendenciosos politicamente”, completou o bilionário, referindo-se à primeira eleição de Donald Trump, que foi novamente eleito presidente dos Estados Unidos no ano passado e tomará posse no dia 20 de janeiro.

O sistema de notas de comunidade é quando usuários da própria rede social explicam ou desmentem algum assunto, podendo incluir links e imagens para exemplificá-la, e essa explicação é votada pelas outras pessoas. Zuckerberg reconheceu que com a mudança menos “conteúdos problemáticos” serão identificados, mas também será “reduzida a remoção acidental de postagens e contas de pessoas inocentes”.

Repercussão

Apesar de ainda ter uma data oficial para as mudanças no regulamento das redes sociais administradas pela Meta para além dos Estados Unidos, o anunciou gerou repercussão entre autoridades políticas. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, manifestou preocupação com as mudanças.

“Vimos o que aconteceu em 2018 com a democracia brasileira em relação às fakenews, vimos o que aconteceu depois das eleições de 2022 dos preparativos não só de um golpe de Estado no Brasil, mas do assassinato de pessoas inclusive com o pagamento antecipado pelo resultado pretendido aos que executariam o plano. Estamos em um mundo mais complicado, não dá para negar isso”, declarou Haddad em entrevista à Globonews.

Em contrapartida, o bilionário Elon Musk, dono do X, elogiou a iniciativa de Zuckerberg. A diretora-executiva do X, Linda Yaccarino, também elogiou a decisão "A checagem de fatos e a moderação não pertencem às mãos de um grupo seleto de guardiões que podem facilmente introduzir seus vieses nas decisões. São um processo democrático que deve estar nas mãos de muitos", declarou ela em suas redes sociais.

Papel das redes

Segundo o especialista em marketing digital e idealizador do Instituto Brasileiro para a Regulamentação da Inteligência Artificial (IRIA) Marcelo Senise, “embora possa parecer uma tentativa de promover a liberdade de expressão, esta abordagem negligencia o papel crítico das plataformas na verificação de informações, especialmente em tempos de fakenews e desinformação em massa”.

“A decisão de confiar na comunidade para moderar conteúdo ignora a realidade de que muitos usuários permanecem presos em suas bolhas, involuntariamente perpetuando inverdades. Neste contexto, em vez de agir como mediadoras neutras, as plataformas podem se tornar catalisadoras de desordem social”, declarou Senise.

Ele ainda completou que, é arriscado “confiar nas redes sociais para autogerenciar sua moderação”, considerando a rápida evolução da inteligência artificial (IA). “A IA possui o potencial de amplificar a inteligência humana, mas também de perpetrar preconceitos e desinformação em uma escala sem precedentes. As plataformas precisam ser mais responsáveis, não menos, e garantir que suas tecnologias sirvam ao bem comum, em vez de instigar conflitos”, destacou.

Em meio as mudanças da empresa, circula no Congresso Nacional o PL 2630/2020 que propõem a regulamentação das redes. Apesar do posicionamento de Mark Zuckerberg, o autor da proposta, senador Alessandro Vieira (MDB-SE) acredita que a notícia não deve influenciar a tramitação do projeto.