Por: Rudolfo Lago

8/1: Governo comemorou presença de comandantes militares

Os presentes abraçaram a palavra "democracia" | Foto: Ricardo Stuckert/PR

Na avaliação do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a ausência dos chefes dos demais poderes da República ao ato em memória dos dois anos do 8 de janeiro de 2023 foi compensada em parte pela presença dos três comandantes das Forças Armadas. Estiveram no ato o general Tomás Miguel Miné Ribeiro Paiva, comandante do Exército; o almirante Marcos Sampaio Olsen, comandante da Marinha, e o brigadeiro Marcelo Kanitz Damasceno, comandante da Aeronáutica. Também presente o comandante do Estado-Maior das Forças Armadas, almirante Renato Rodrigues de Aguiar Freire.

A presença dos três comandantes reforça a ideia de que as Forças Armadas buscam o maior distanciamento possível das investigações dos atos antidemocráticos que, a essa altura, já atingem diversos militantes, tanto da ativa quanto da reserva. O general de quatro estrelas Walter Braga Netto, que foi candidato a vice-presidente na chapa derrotada do ex-presidente Jair Bolsonaro em 2022, é o primeiro oficial de alta patente do Exército preso no país por determinação da Justiça comum. Na semana passada, a Justiça Militar determinou que não irá julgar os processos dos militares envolvidos, remetendo tudo ao Supremo Tribunal Federal.

Exatamente no momento em que a plateia gritava a palavra de ordem “Sem anistia”, referindo-se à punição dos envolvidos nos atos antidemocráticos, Lula agradeceu a presença dos comandantes militares na solenidade.

Parece uma clara mudança de postura. No ano passado, quando se completaram 60 anos do golpe que instituiu a ditadura militar, Lula acabou desautorizando uma extensa agenda de atividades que estava programada em memória da data. Segundo informações, aconselhado pelo ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, que temia que os atos estimulassem reações entre os militares. Para alguns, porém, teria havido outro motivo para Lula reduzir os atos. Eles eram preparados pelo Ministério dos Direitos Humanos, e, naquela altura, Lula já saberia das acusações de assédio envolvendo o ex-ministro Silvio Almeida. Lula não teria querido dar a ele visibilidade. Silvio Almeida só foi exonerado em setembro do ano passado.

Punição

Os militares não se manifestaram. Mas a necessidade de punição dos envolvidos foi reforçada por todos os que discursaram no ato. “Seremos implacáveis contra tentativa de golpe”, disse Lula. “Nunca mais aceitaremos ditaduras”, discursou a deputada Maria do Rosário (PT-RJ), que representou a Câmara. “Jamais deixaremos de ser vigilantes na defesa da democracia”, afirmou o vice-presidente do Senado, Veneziano Vital do Rego (MDB-PB). “A maturidade institucional exige a responsabilização por desvios dessa natureza”, disse o vice-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, lendo texto do presidente do Supremo, Luís Roberto Barroso.

Xandão

Responsável pelos inquéritos dos atos antidemocráticos, o ministro do STF Alexandre de Moraes foi ovacionado pela plateia em dimensão até maior que os aplausos a Lula. O que fez com que o presidente brincasse com a sua popularidade. “Nunca tinha conhecido ministro de Suprema Corte com apelido dado pelo povo”, disse Lula. “Você nunca mais vai deixar de ser Xandão”. Logo depois, numa parte improvisada antes do discurso lido, o presidente voltou a se referir ao ministro do STF como “Xandão”.

Abraço

Ao final da solenidade, Lula e os demais presentes desceram a rampa do Palácio do Planalto rumo à Praça dos Três Poderes, onde estavam populares. Lula cruzou entre eles acompanhado de ministros e outras autoridades. Juntos, abraçaram, no centro da praça, a palavra “Democracia”.