Por: Grabriela Gallo

Trump toma posse nesta segunda. Veja impactos para o Brasil

Convivência com Trump será um desafio para Lula e o Brasil | Foto: Alan Santos/Agência Brasil

Nesta segunda-feira (20) Donald Trump (partido Republicano) toma posse como o 47º presidente dos Estados Unidos. Assim como é tradição no país, Trump optou por convidar diplomatas de outros países e não chefes de Estado. Porém, ele abriu uma exceção para aqueles ligados à extrema-direita – como o presidente da Argentina, Javier Milei; a Primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, e o presidente de El Salvador, Nayib Bukele. Quem representará oficialmente o Brasil0 será a embaixadora do Brasil em Washington, Maria Luiza Viotti.

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) solicitou duas vezes que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes liberasse seu passaporte para que pudesse comparecer à cerimônia. Com o pedido negado, estarão na posse de Trump o representando seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-S), e sua esposa, Michelle Bolsonaro.

Quando Trump foi eleito presidente pela primeira vez, em 2016, na maior parte do tempo sua convivência no Brasil foi com um presidente alinhado a ele em termos ideológicos, Jair Bolsonaro. Agora, Trump toma a posse tendo o Brasil governador por Luiz Inácio Lula da Silva (PT), um político de esquerda. Essa situação representa um grande desafio diplomático para Lula, bem diferente do que era, por exemplo, conviver com Barak Obama, um presidente do partido Democrata, que chegou a dizer que o presidente brasileiro era “o cara”.

Antes de tomar posse, Trump já sinalizou que poderá mesmo radicalizar certas posições mais à direita em seu segundo governo, forçando tais pontos nas relações com os demais países. Uma situação que reforça o receio de que as relações diplomáticas entre os países, assim como entre seus respectivos governantes, possam enfrentar fortes atritos.

Dificuldades

Para o pesquisador da Universidade de Helsinque (Finlândia) e cientista político Kleber Carrilho, no começo, a relação entre Brasil e os Estados Unidos provavelmente será difícil. Mas isso dependerá das equipes diplomáticas que serão definidas. “Embora [Marco] Rubio, o secretário de Estado [dos Estados Unidos], não seja muito amigo do Brasil, é provável que ele nem fique muito tempo. E também há uma equipe muito grande de diplomatas, mesmo que Trump mande para o Brasil como embaixador algum financiador, como em geral é de praxe”, completou Carrilho ao Correio.

Questionado pela reportagem, o cientista político avalia que o ideal é que a diplomacia brasileira “se afaste de questões e de nomes mais ideológicos, sendo mais próxima ao chanceler do que de Celso Amorim, que faz todo o discurso, mas não tem mais comando sobre o Itamaraty”.

A advogada especialista em direito internacional Hanna Gomes também concorda que haverá dificuldades no início das relações com o novo governo dos Estados Unidos. Mas, para ela, apesar de Donald Trump e Lula possuírem “visões políticas e prioridades de gestão bem distintas”, isso não significa que as relações políticas e diplomáticas estarão totalmente desalinhadas, por conta de outras questões políticas e econômicas no tabuleiro internacional.

“Enquanto Trump adota uma postura nacionalista e protecionista, Lula enfatiza relações plurais e políticas sociais e ambientais multilaterais. Mas isso não representa um desalinho. Apenas que são evidentes as diferenças ideológicas entre os dois líderes. Para o Brasil, isso pode significar desafios na cooperação bilateral, exigindo uma diplomacia cuidadosa para manter canais de diálogo abertos, apesar das divergências”, disse Gomes.

Hanna Gomes ainda reforçou que a postura protecionista de Trump implicará que a diplomacia brasileira terá o desafio de manter relações positivas entre os países. “Para mitigar esses impactos, o Brasil precisará adotar uma diplomacia estratégica, buscando pontos de convergência, como cooperação econômica em setores específicos e não divergir publicamente sobre os conflitos armados ao redor do mundo, por exemplo”, avaliou.

Promessas

Durante sua campanha presidencial, o novo presidente norte-americano fez uma série de promessas de campanhas consideradas controversas para o governo brasileiro. Dentre as promessas para seu governo, Trump afirmou que retirará novamente os Estados Unidos do Acordo de Paris – tratado global assinado por 195 países que visa reduzir as emissões de gases de efeito estufa e combater as mudanças climáticas –, além de apoiar o aumento da produção de energia nuclear no país.

Já em questões econômicas, o republicano prometeu uma política econômica mais protecionista, e declarou que irá impor uma tarifa superior a 60% sobre todas as importações chinesas. Kleber Carrilho, por outro lado, acredita que essa promessa não deve se concretizar, a longo prazo. “Trump deve fazer algum aceno aos eleitores no primeiro momento, mas não acredito que um conflito comercial com a China e com os Brics [bloco econômico que reúne Brasil, Rússia, Ìndia, China, África do Sul e outros países] seja uma realidade neste momento. Afinal, isso teria um resultado trágico para a economia dos EUA”, reforçou o cientista político.

“Embora esse discurso tenha a capacidade de influenciar políticas de imigração e ajustar tarifas por meio de ordens executivas, ele serve mais para alimentar o eleitorado interno, e muitas dessas ações enfrentam barreiras legais e exigem aprovação do Congresso Americano, e dificilmente serão implementadas. Por exemplo, a imposição de tarifas elevadas sobre produtos chineses poderia desencadear disputas comerciais e afetar a economia global, incluindo parceiros como o Brasil”, reforçou a advogada Hanna Gomes.