No cargo de ministra substituta, a secretária-geral do Ministério das Relações Exteriores, Maria Laura da Rocha, afirmou nesta terça-feira (21) que o governo brasileiro buscará trabalhar as convergências com o novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (Republicano), que tomou posse na última segunda-feira (20), substituindo Joe Biden (Democrata). A declaração foi feita após uma reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), quando Maria Laura foi questionada sobre a fala do republicano, que disse que os EUA não precisam do Brasil, mas o Brasil, ao contrário, precisa dos EUA.
"O presidente Trump pode dizer o que quiser. Ele é o presidente eleito dos EUA, e nós vamos analisar cada passo das decisões tomadas pelo novo governo", respondeu a ministra substituta à imprensa. "Mas acredito que, como somos um povo que tem fé na vida e acredita que tudo dará certo, vamos focar nas nossas convergências, que são muitas, em vez de nos concentrarmos nas divergências", acrescentou.
A reunião contou também com a presença da ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva; do ministro da Secretaria de Comunicação Social, Sidônio Palmeira; da secretária-executiva da Casa Civil, Miriam Belchior, e do assessor-chefe da Assessoria Especial do Presidente da República, Celso Amorim
“Todos precisam”
Enquanto assinava seus primeiros decretos no Salão Oval, durante o início de seu segundo mandato, Trump declarou que a relação entre os EUA com o Brasil e com a América Latina é positiva, porém, os Estados Unidos não precisam de nenhum. "A relação é excelente. Eles precisam de nós muito mais do que nós precisamos deles. Não precisamos deles. Eles precisam de nós. Todos precisam de nós", disse Trump à imprensa.
O republicano também comentou que os países emergentes do Brics (bloco formado por Brasil, Rússia, ìndia, China, África do Sul e outros países) não deverão substituir o dólar por outra moeda nas transações comerciais, reafirmando que, caso isso aconteça, serão impostas tarifas de 100% sobre os produtos desses países. "Não há como fazer isso. Eles vão desistir", afirmou. Lula, por sua vez, já havia defendido a criação de um sistema alternativo ao dólar.
O governo brasileiro tem adotado uma postura pragmática em relação à vitória de Trump, apesar de Lula ter manifestado apoio à adversária, Kamala Harris (Partido Democrata), durante a corrida eleitoral. No dia da posse, o petista desejou ao novo líder um “mandato exitoso”. “As relações entre Brasil e Estados Unidos são marcadas por uma trajetória de cooperação, fundamentada no respeito mútuo e numa amizade histórica. Nossos países possuem fortes laços em várias áreas, como comércio, ciência, educação e cultura”, destacou o presidente brasileiro.
De praxe
A consultora de relações institucionais e governamentais Beatriz Nóbrega, avaliou que, como os Estados Unidos são o segundo maior destino de importações brasileiras, a fala de Trump não é uma inverdade e a atual gestão não deve representar uma grande mudança para o Brasil.
“Nós realmente dependemos muito mais deles do que eles dependem de nós”, disse ela ao Correio. “De toda forma, a declaração não chega a ser ruim para o Brasil. Até o tom pela qual a declaração foi dada e os contextos da posse e primeiras ações de Trump como presidente, pode-se esperar uma certa normalidade nas relações”, afirmou a especialista.
Para o cientista político Kleber Carrilho, pesquisador da Universidade de Helsinque, na Finlândia, a fala de Trump reflete o pensamento da classe política norte-americana, sendo que o presidente eleito carece dos "freios diplomáticos" que normalmente limitam esse tipo de discurso. "O que Trump não verbalizou é que, talvez, o maior risco para os Estados Unidos seja o fato de, ao abandonarem a América Latina, deixarem espaço livre para a China", concluiu Carrilho.