Desde o começo da semana, o governo federal vem anunciando que a redução dos preços dos alimentos será uma das principais prioridades do Executivo para o ano. Na primeira reunião ministerial do ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) destacou que o objetivo para 2025, já visando a campanha eleitoral de 2026, será “união, reconstrução e comida barata na mesa do trabalhador”. A meta, porém, acabou comprometida por uma fala desastrada do ministro da Casa Civil, Rui Costa, que, na quarta-feira (22), mencionou que o governo poderia adotar “medidas de intervenção”. A fala assustou o mercado, por trazer a lembrança de medidas controversas do passado, como congelamento ou tabelamento de preços. Rui Costa teve de divulgar depois uma nota desmentindo a possibilidade, e a crise foi contida.
Com isso, nesta sexta-feira (24), o presidente da República se reúne com os ministros da Casa Civil, Rui Costa; do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira; da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, e o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Melo, para discutirem alternativas para baratear os preços dos alimentos. Na quinta-feira (23), os representantes das pastas se reuniram pela primeira vez para trata do tema, mas sem a presença do presidente Lula.
Após a reunião, o ministro de Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, negou também uma outra possibilidade aventada, que seria alterar as regras do sistema de prazo de validade para tentar reduzir o preço dos alimentos nas prateleiras dos supermercados. A medida foi apresentada como uma alternativa pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras), na quarta-feira (22). Segundo a Abras, a sugestão visa inserir o modelo "best before" que define que o consumo deve ser "de preferência antes de". Na prática, a medida permite que mercados mantenha produtos nas prateleiras por mais tempo.
O Ministério de Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar respondeu ao Correio da Manhã que qualquer alternativa que o governo adote para conter o preço dos alimentos será divulgada pela Presidência da República após todas as reuniões.
Possíveis medidas
Em 2024, o índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o indicador oficial de inflação do país, encerrou o ano com um aumento de 7,69% no grupo Alimentação e Bebidas. Segundo o ministro da Casa Civil, Rui Costa, um dos principais motivos desse aumento foram problemas nas safras, causadas pelas mudanças climáticas.
Ao Correio da Manhã, o economista e consultor em Comércio Internacional da BMJ Consultores Associados Guilherme Gomes destacou que “a redução do preço dos alimentos está diretamente ligada à redução dos custos dos produtores”.
“Portanto, o governo terá que estabelecer medidas que tenham esse foco. Para isso, é necessário vontade política – que o governo parece possuir – e disponibilidade orçamentária, que é um tema sensível ao governo, considerando a necessidade de controle de gastos”, disse à reportagem.
Porém ele destacou que há dois fatores que influenciaram o valor dos alimentos que “não podem ser controlados pelo governo”: condições climáticas favoráveis para a produção agrícola e o equilíbrio nos preços do mercado internacional de commodities. “Qualquer um desses fatores pode impactar diretamente no preço, por isso não é certo que as medidas que serão anunciadas pelo governo federal conseguirão reduzir o preço dos alimentos na prateleira do mercado”, pontuou o economista.
Gomes avalia que o governo deve priorizar “o aumento de crédito ao produtor, o que reduz seu custo e impacta diretamente no preço dos alimentos”, porém, ainda será necessário esperar para ver quanto dinheiro será destinado nessa eventual frente e quais setores poderão ser beneficiados. “Além disso, é provável que o governo federal busque maneiras de aumentar a assistência técnica para a produção de alimentos. Parte relevante dos gêneros alimentícios é produzida por agricultores familiares, os quais tendem a ter menos acesso a tecnologias e técnicas de produção de ponta, de maneira que métodos mais eficientes de produção podem reduzir seus custos e ajudar na redução dos preços ao consumidor final”, ressaltou Gomes.
Intervenção
Ainda referente à participação do ministro no programa, o Ministério da Casa Civil reiterou para o Correio da Manhã que “não está em discussão intervenção de forma artificial para reduzir preço dos alimentos”.
“O governo irá discutir com os ministérios e produtores de alimentos as medidas que poderão ser implementadas”, completou.
A declaração se refere a uma fala do chefe da pasta que foi mal interpretada. Durante o programa, o Costa disse que os ministérios trabalharão em “um conjunto de intervenções que sinalizem para o barateamento dos alimentos”. Rui Costa depois passou o dia conversando com a imprensa, destacando que não haverá intervenção governamental para forçar de modo artificial a queda dos preços.