O famoso apresentador Abelardo Barbosa, o Chacrinha, costumava repetir que “quem não se comunica, se trumbica”. O governo mudou o secretário de Comunicação da Presidência porque percebeu que vinha se “trumbicando”. O novo ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), Sidônio Palmeira, explicou na semana passada as alterações que começa a implementar na comunicação do governo, especialmente na comunicação digital, visando melhorar a imagem do governo federal para a corrida presidencial em 2026. Algumas medidas já começam a se perceber, como a rápida correção de rumos após o tropeço do ministro da Casa Civil, Rui Costa, ao explicar as ações para reduzir o preço dos alimentos.
“Vamos mudar o formato de como o presidente se comunica nas redes. Ele tem um estilo, fala com facilidade e está com muita disposição de fazer diferente, querendo explicar, falar e fazer. Ele quer divulgar as ações, quer mostrar o que ele faz”, declarou Sidônio em uma plenária virtual organizada pelo PT, na última quinta-feira (23).
O ministro reiterou que a comunicação e aliados do governo precisam evitar conteúdos padronizados e “pasteurizados” nas redes sociais, de forma que cada aliado busque se expressar da sua maneira para seus seguidores. “A beleza está na diferença. Se fizer tudo pasteurizado, tudo igual, tudo montadinho, não dá. Rede social gosta das coisas sujinhas, sujinhas no bom sentido, aquele negócio mais soltinho, mais simples”, disse.
Ao contrário de Paulo Pimenta, que adotava uma estratégia de comunicação com postagens mais contidas, nos últimos dias a Secom nas mãos de Sidônio tem adotado uma estratégia nas redes sociais com vídeos mais populares. São vídeos legendados, com músicas ao fundo, mostrando o presidente Lula no meio do povo – ao contrário de antigos vídeos que mostravam mais o presidente da República em gabinetes ou no Palácio do Planalto.
Alinhados
Ao Correio da Manhã, a especialista em comunicação política e marketing político Andressa Kammoun destacou que essa estratégia de Sidônio pode trazer resultados positivos ao governo, desde que estejam alinhados com os objetivos estratégicos da comunicação governamental.
“A adoção de formatos mais descontraídos e acessíveis, como vídeos legendados e humanização do presidente, reflete uma tentativa de aproximar o governo das massas, especialmente de públicos jovens e das classes C e D, que frequentemente consomem conteúdo em redes sociais como TikTok e Instagram. Essa abordagem é eficaz para gerar identificação e engajamento, elementos essenciais para moldar uma imagem pública mais positiva e acessível”, destacou.
Riscos
Porém ela enfatizou que a estratégia também apresenta riscos. “Um excesso de informalidade pode ser percebido como falta de seriedade em temas sensíveis, diluindo a credibilidade institucional. O equilíbrio ideal seria combinar a linguagem um pouco menos formal com mensagens estratégicas e ações concretas, garantindo que a forma popular não obscureça o conteúdo relevante”, afirmou Kammoun.
Na avaliação da especialista em marketing político, o sucesso das mudanças comunicacionais vai depender da capacidade do governo de mensurar “resultados reais, como melhoria nos índices de aprovação e engajamento do público-alvo”, em vez de focar apenas em grandes volumes de visualizações.
“O meio-termo ideal seria adotar uma comunicação clara, didática e acessível, sem desviar da postura técnica que a instituição representa. Isso pode ser alcançado utilizando elementos visuais ou narrativos atrativos, mas sempre ancorados na relevância do conteúdo. Por exemplo, infográficos modernos, vídeos explicativos com linguagem simples e até mesmo campanhas em plataformas populares podem cumprir esse papel, desde que preservem o tom de autoridade técnica”, completou.
Nas últimas eleições, figuras políticas ligadas à direita tiveram melhores resultados em sua comunicação virtual do que autoridades da esquerda. Isso deixou a impressão de que a esquerda precisaria se reinventar para alcançar esse público. Todavia, Andressa Kammoun reitera que o sucesso da comunicação virtual não se trata do viés político, mas da forma como essa mensagem é transmitida, dependendo da plataforma digital e do público que deseja alcançar.
“O que falta para alguns representantes da esquerda alcançarem o mesmo impacto digital de figuras proeminentes da direita é, muitas vezes, um ajuste no formato da mensagem. Tornar os conteúdos mais dinâmicos, emocionais e alinhados ao formato nativo das redes. Além disso, a esquerda pode se beneficiar ao descentralizar suas vozes e explorar influenciadores e movimentos culturais para dialogar de forma mais orgânica com diferentes públicos”, pontuou a comunicadora.