Pela primeira vez, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) colocou a possibilidade de não concorrer à Presidência da República em 2026. Ele está inelegível até 2030 por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e, até então, se colocava como o único no páreo para a disputa. Questionado sobre as possíveis candidaturas para representar a direita brasileira no próximo pleito, o político considerou sua esposa, Michelle Bolsonaro (PL) como um “bom nome” e com “chances de chegar” na cadeira presidencial. A declaração foi feita em entrevista à CNN.
Neste cenário, se colocou como a pessoa para assumir o Ministério da Casa Civil, caso Michelle fosse a vencedora. “Vi na pesquisa do Paraná Pesquisas que ela está na margem de erro do Lula. Esse evento lá fora [posse do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (Republicano)] vai dar uma popularidade enorme para ela. Não tenho problemas [com Michelle ser o nome escolhido] , seria também um bom nome com chances de chegar. Obviamente, ela me colocando como ministro da Casa Civil, pode ser”, declarou o ex-presidente.
Algumas pesquisas eleitorais já colocam o nome de Michelle para avaliar a possível candidatura. Como o Correio da Manhã mostrou anteriormente, o último levantamento sobre o Executivo federal do Instituto Paraná Pesquisas registrou a ex-primeira dama como um dos nomes mais fortes da direita, entre os utilizados, para enfrentar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Na ocasião, Lula recebeu 34,5% das intenções de voto, enquanto Michelle, 20,7%.
O cientista político Rócio Barreto observa que Bolsonaro começa a aceitar a perda de sua candidatura, mas ainda acredita em seu poder como cabo eleitoral e na força de sua indicação para um cargo em 2026. “Ele vai utilizar desse poder com toda certeza”, afirmou Barreto ao Correio da Manhã.
Michelle?
O cientista político André Rosa analisa que a estratégia de lançar Michelle como opção para o pleito poderia, inicialmente, resultar em uma transferência parcial de popularidade. Contudo, essa vantagem pode não se sustentar dependendo da polarização do cenário político e da habilidade da candidata em se posicionar. Rosa citou o exemplo de Joaquim Roriz, ex-governador do Distrito Federal, que, barrado pela Lei da Ficha Limpa em 2010, lançou sua esposa, Weslian Roriz, em seu lugar. No entanto, ela não obteve o mesmo sucesso nas urnas.
“A transferência de popularidade pode ser imediata, mas em sistemas eleitorais com uma forte polarização, onde as escolhas se concentram em duas grandes legendas, isso por si só não garante um bom resultado, a menos que o outro candidato tenha um desempenho fraco em termos de marketing político”, explicou Rosa.
Horas após falar sobre Michelle para o Palácio do Planalto, o ex-presidente afirmou ao Metrópoles que até o momento, o que está definido é que ela será candidata ao Senado Federal e colocou os filhos como opção para o pleito presidencial. “Não tem nada negociado, nada conversado [sobre Michelle na Presidência]. Ela vem candidata ao Senado aqui em Brasília. Se tivesse de botar alguém da família, seria o Flávio [Bolsonaro], o Eduardo [Bolsonaro]”, disse.
Candidatura
Enquanto o tempo passa, Bolsonaro ainda não definiu claramente quem apoiará na eleição de 2026. Segundo André Rosa, o ideal seria preparar uma candidatura com antecedência, ao contrário do que aconteceu em 2018, quando o hoje presidente Luiz Inácio Lula da Silva manteve até o último momento sua tentativa de candidatura antes de passar o bastão para o atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Na ocasião, Haddad teve pouco tempo para se preparar e acabou derrotado. Foi também o que antes acontecera quando Roriz tentou lançar Weslian como alternativa no Distrito Federal.
Por sua vez, Rócio Barreto não vê necessidade dessa organização prévia considerando o alcance de Bolsonaro, e que isso poderia causar o efeito contrário. “Isso somente poderá ampliar o poder de fogo de outros candidatos e da oposição para procurar defeitos e tentar acabar com uma carreira que ainda nem começou”, ponderou o cientista político.