Por: Gabriela Gallo

Com Galípolo, governo deverá amargar nova alta de juros

Sob o comando de Galípolo, Copom deve manter juros altos | Foto: Jose Cruz/Agência Brasil

Nesta quarta-feira (29), está agendada a primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) do ano. E será a primeira formada pela nova diretoria e com Gabriel Galípolo como novo presidente da instituição. Seguindo previsões da última reunião, realizada em dezembro de 2024, a expectativa é de que, mesmo com a mudança de comando, a taxa Selic – taxa básica de juros, o principal instrumento de política monetária utilizado pelo Banco Central para controlar a inflação – aumentará 1 ponto percentual, saindo dos 12,25% para 13,25%.

Ao Correio da Manhã, o consultor em Economia da BMJ Consultores Associados Érico Oyama, explicou que o principal motivo para “a manutenção da curva ascendente na taxa básica de juros é conter o avanço da inflação, que nesse momento é impulsionada não só pela pressão de demanda em meio à queda na taxa de desemprego, mas também pela desvalorização do real em relação ao dólar”.

Além disso, o professor de Macroeconomia do Instituto de Economia e Relações Internacionais da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) Benito Salomão, destacou que a economia brasileira está passando por um cenário “inédito, do ponto de vista da dificuldade do Banco Central em fazer a inflação convergir de novo para o centro da meta”.

“Estamos falando de uma inflação que já vem acima da meta desde 2021. E o que tem condicionado isso é exatamente a perda da credibilidade do Banco Central, na minha opinião. Quando o Banco Central fica muitos anos sem conseguir trazer essa inflação para a meta, as pessoas deixam de acreditar na meta como uma âncora crível para onde a política monetária irá guiar os preços. E com isso, as firmas e as indústrias passam a reajustar os seus preços de forma um pouco mais orientada por outros fatores que não necessariamente a política monetária”, explicou ao Correio da Manhã.

Trocas

Caso o Copom de fato siga elevando a taxa Selic nas próximas duas reuniões – portanto, há chances da taxa aumentar para 14,25% em março –, tal política monetária permanecerá a mesma na gestão de Gabriel Galípolo, indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Diante disso, o governo federal não pode mais alegar que está sendo “boicotado”, como dizia com relação ao antigo presidente do BC indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, Roberto Campos Neto.

Apesar das trocas de presidentes da instituição financeira, o economista Benito Salomão destacou que, dada a situação econômica atual, o BC seguiria nessa estratégia. “Em condições normais, um ponto percentual é um exagero, um contrassenso. Mas dada a dificuldade já de cinco anos, com essa inflação acima da meta, em muitos períodos acima do teto da meta, me parece que o Banco Central agora, sob a direção de um novo presidente, não tem muito o que fazer diferente disso”, afirmou.

Popularidade

Nesta segunda-feira (27) foi divulgada uma pesquisa realizada pelo Instituto Quaest para a Genial Investimentos, alegando que, pela primeira vez a taxa da desaprovação do governo superou a de aprovação – 49% dos entrevistados desaprovação a gestão Lula 3, enquanto 47% aprovam. Diante disso, a reportagem questionou Érico Oyama sobre uma eventual nova queda na popularidade do governo com o aumento da Selic. Porém, ele destacou que, caso isso seja com concretizado, a medida se enquadrará no contexto de que o governo federal tem tentado incorporar à sua imagem como “quem prioriza a responsabilidade fiscal”.
“Prova disso é que o ministro [da Fazenda] Fernando Haddad divulgou uma lista com 25 matérias econômicas prioritárias para 2025, movimento que teve como um dos objetivos oferecer previsibilidade ao mercado, preceito considerado essencial aos agentes econômicos”, disse.

Ele pontuou que, no momento, o governo está mais preocupado em conter a inflação. Um exemplo são as medidas anunciadas para tentar conter o avanço nos preços dos alimentos. Na avaliação do consultor de economia, adotar ações para reduzir os preços de alimentos é uma alternativa, de imediato, eficaz para reduzir a taxa da inflação.

“O câmbio tem tido impacto inflacionário e, para tornar o real mais forte, é preciso melhorar o quadro fiscal do Brasil. Em paralelo, o cenário internacional de incertezas com a volta de [Donald] Trump ao governo dos Estados Unidos também motiva a busca de investidores por ativos de segurança, como o dólar, e esse movimento valorizar a moeda americana”, completou.