Por: Karoline Cavalcante

Deportação em massa impactará Brasil e América Latina

Mauro Vieira pedirá esclarecimentos aos EUA | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Em meio à crise dos imigrantes deportados dos Estados Unidos sob a administração do presidente Donald Trump (Republicano), Brasil e outros países da América Latina se preparam para lidar com impactos políticos e econômicos significativos, já que podem se tornar destinos inesperados para essa população. A análise é da professora de relações internacionais do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec-SP), Karina Calandrin, em entrevista ao Correio da Manhã.

A especialista ressalta que o Brasil surge como um destino emergente para esses migrantes, em parte devido à sua legislação migratória progressista, estabelecida pela Lei 13.445/2017, que facilita a regularização e garante melhores condições de vida.

"Essa lei reflete uma postura mais acolhedora em comparação a outras nações da região, o que torna o Brasil uma alternativa mais atraente. O país, inclusive, já possui experiência com grandes fluxos migratórios, como o dos haitianos após o terremoto de 2010 e o dos venezuelanos devido à crise humanitária. No entanto, um aumento significativo no número de imigrantes pode sobrecarregar regiões fronteiriças como Acre, Roraima e Mato Grosso do Sul, gerando tensões sociais e políticas", explicou Calandrin.

Outros países

A internacionalista ainda alertou que a situação não afeta apenas o Brasil e o México, mas também países menores e menos preparados, como Paraguai e Chile. "O aumento da presença de migrantes em áreas com infraestrutura limitada pode gerar tensões sociais, alimentar discursos xenófobos e resultar em políticas mais restritivas", afirmou.

Calandrin destacou, no entanto, que a capacidade do Brasil de absorver um fluxo migratório maior depende da sua estabilidade econômica e política. "Se a pressão aumentar, o país poderá enfrentar desafios adicionais, como a sobrecarga nos serviços públicos, disputas pelo mercado de trabalho informal e a necessidade de esforços coordenados com outros países da região para enfrentar o problema de maneira conjunta", completou.

“Degradante”

Na manhã desta segunda-feira (27), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) convocou o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, para discutir as deportações em massa realizadas pelos EUA. O governo brasileiro afirmou que os 88 brasileiros deportados receberam um tratamento “degradante” — eles tiveram as mãos e os pés algemados durante um voo de repatriação operado pelo Serviço de Imigração e Controle de Aduanas dos EUA (ICE).

Em resposta, o Itamaraty anunciou que o governo brasileiro irá encaminhar um pedido de esclarecimento ao governo dos Estados Unidos. "Seguimos atentos às mudanças nas políticas migratórias americanas, buscando garantir a proteção, segurança e dignidade dos brasileiros que residem naquele país", afirmou a pasta.

A pedido do presidente colombiano, Gustavo Petro, a Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac) convocou uma reunião de emergência para esta quinta-feira (30) a fim de discutir as implicações políticas e humanitárias da crise migratória. O pedido acontece após Petro recusar a entrada de colombianos deportados em aviões militares norte-americanos. Nas redes sociais, Petro criticou a ação de Trump e pediu dignidade à população e ao seu país. Em resposta, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou uma medida punitiva, impondo uma tarifa de 25% sobre produtos colombianos importados para os EUA,.

Enquanto isso, na Argentina, a província de Salta anunciou nesta segunda-feira (27) o início de um processo de licitação para a construção de uma cerca próxima à fronteira com a Bolívia, como parte das iniciativas do presidente argentino, Javier Milei, para conter o fluxo migratório proveniente de países vizinhos.