Por Karoline Cavalcante
O presidente dos Estados Unidos da América (EUA), Donald Trump (Republicano) voltou a defender a aplicação de sobretaxas ao Brasil, pois, segundo ele, o país está entre as nações que "querem mal" aos EUA com as altas cobranças de tarifas sobre os produtos americanos. O discurso foi feito a apoiadores na Flórida.
"Coloque tarifas em países e pessoas estrangeiras que realmente nos querem mal. A China é um grande criador de tarifas. Índia, Brasil, tantos, tantos países", iniciou o republicano. "Não vamos deixar isso acontecer mais porque vamos colocar a América em primeiro lugar, sempre colocar a América em primeiro lugar", acrescentou. No discurso, ele ainda defendeu a volta para o sistema que tornou os EUA "mais ricos e poderosos do que nunca", exemplificando que entre 1870 e 1913 o país taxava tudo. "E esse foi o período mais rico da história dos Estados Unidos", afirmou Trump.
Ao Correio da Manhã, a advogada especialista em direito internacional Hanna Gomes explica que caso a taxa seja efetivamente aplicada, o Brasil enfrentará algumas consequências econômicas e comerciais consideráveis, pois exporta uma gama variada de produtos para os Estados Unidos — como soja, carne, café, minério de ferro, entre outros.
Efeito contrário
"Caso Trump decida aumentar as tarifas sobre produtos de países que ele considera "não alinhados", isso pode tornar os produtos brasileiros mais caros no mercado americano, reduzindo a competitividade das exportações brasileiras", afirmou. "O impacto pode ser particularmente grande sobre esses, que são sensíveis a variações nos preços internacionais, e podem desvalorizar com o tempo, gerando grande prejuízo ao Brasil, pelo menos até que se ache outro país para escoar essa produção, o que pode demandar uma flexibilidade no valor ou nas negociações com outros países compradores", prosseguiu advogada.
A especialista pontuou, porém, que embora desafios possam ser enfrentados, as atitudes de Trump poderão causar o efeito contrário nos Estados Unidos, isolando o país do resto do mundo. "De toda forma, com essa política patriota e protecionista, os EUA podem entrar em um isolamento coordenado por outros países e sentir o peso da globalização contra si, uma vez que boicotes coletivos e diminuição de parceiros podem ocorrer", ponderou Hanna Gomes.
Sobretaxa
No fim de 2024, Trump já havia afirmado que responderia às taxações igualmente. "A palavra 'recíproco' é importante. O Brasil nos taxa muito. Se eles querem nos taxar, tudo bem. Taxaremos de volta", disse o presidente dos EUA.
Segundo o diretor de Relações Governamentais e Comércio Internacional da BMJ Consultores Associados, José Pimenta, as ameaças de sobretaxa são recorrentes desde a campanha para o pleito e que, nas entrelinhas, podem significar uma forma de fazer com que os países dialoguem sobre o tema com os Estados Unidos.
"O volume de exportação é expressivo, porém não sabemos ainda se, quando, e em quais produtos haverá sobretaxa, nem se haverá sobretaxa de fato", disse o diretor. "Geralmente, o que Trump faz é justamente, ao dar esse tipo de declaração, emitir um sinal ao país para que ele também comece a dialogar com o governo norte-americano e já ficar de sobreaviso sobre a possibilidade em relação a uma eventual sobretaxa ou para uma eventual política bilateral", explicou Pimenta.