Lula faz reunião para rearrumar governo

Ministros terão de ter aval do Planalto para publicarem portarias. Reduzir inflação será o foco

Por Gabriela Gallo

Lula aos ministros: "Não temos o direito de falhar"

Faltando duas semanas para o retorno das atividades parlamentares no Congresso Nacional, nesta segunda-feira (20) o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) realizou a primeira reunião ministerial do ano. No encontro, já visando a corrida presidencial do próximo ano, o presidente enfatizou que “2026 já começou” e que a forma do governo se promover para o próximo pleito é “trabalhando”.

“Daqui para a frente a gente não pode inventar mais nada. Daqui para a frente a gente vai ter que colher tudo aquilo que nós semeamos. Nós temos que ter certeza que tudo aquilo que nós semeamos, que tudo aqui que anunciamos vai aparecer. […] Nós não podemos falhar, nós não temos o direito de falhar”, ressaltou Lula na abertura do encontro.

Diante das últimas polêmicas envolvendo mudanças sobre o Pix, que o governo teve que voltar atrás diante de uma forte repercussão negativa sobre o caso, o presidente da República anunciou que, a partir de agora, portarias e demais medidas dos ministérios precisarão primeiro passar pelo crivo do Planalto.

“Daqui para a frente, nenhum ministro vai poder fazer portaria que depois crie confusão para nós, sem que essa portaria passe pela Presidência da República, pela Casa Civil. Muitas vezes a gente pensa que não é nada de mais, mas alguém faz uma portaria, faz um negócio qualquer, daqui a pouco arrebenta e vem cair na Presidência da República”, ressaltou Lula.

Apesar de não ter que citado nomes, o recado foi claramente direcionado ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já que a polêmica da portaria do Pix foi no seu ministério, mais especificamente na Receita Federal. Na última semana, o governo revogou uma decisão de que instituições financeiras e empresas de pagamentos teriam de informar à Receita sobre movimentações mensais acima de R$ 5 mil para pessoas físicas e R$ 15 mil para pessoas jurídicas. O Executivo desistiu da mudança após forte pressão repercussão negativa, com notícias falsas de que o Pix passaria a ser taxado e especulações de quebras de sigilo bancário e financeiro. O recuo do governo foi criticado, inclusive por aliados.

Lula ainda destacou que os novos desafios do governo para este ano serão a Cúpula do Brics, bloco econômico que reúne Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul e outros países – o Brasil sediará a cúpula como presidente do grupo em 2025 – e a 30ª edição da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 30), que acontecerá em novembro em Belém (PA). Lula destacou que ambos os encontros serão “a cara do Brasil no exterior”.

Alimentos

Durante a reunião, o presidente ainda destacou que uma das prioridades do governo precisa ser a queda no preço dos alimentos. São os alimentos que estão pressionando a inflação, que terminou o ano em 4,83%, acima do teto da meta. “Todo ministro sabe que os alimentos estão caros e é uma tarefa nossa garantir que o alimento chegue na mesa do povo trabalhador, da dona de casa, na mesa do povo brasileiro, em condições compatíveis com o salário que ele ganha”, destacou.

Em 2024, os preços de alimentos considerados básicos para a cesta básica nacional (como arroz, açúcar e carnes) enfrentaram um aumento nacional. Um dos fatores que influenciaram os reajustes foi o aumento do dólar, em dezembro de 2024. Porém, ao Correio da Manhã, segundo o professor de Macroeconomia do Instituto de Economia e Relações Internacionais da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) Benito Salomão, há outros fatores que tiveram influência. “Como houve um movimento em dezembro no dólar muito agudo, as pessoas tendem a sintetizar explicações exclusivamente nisso, mas não é só o dólar. Foi um ano difícil, do ponto de vista da agricultura, com secas, estiagem longa e quebra de safra, especialmente na região Centro-Oeste, que é a nova fronteira agrícola do país”, explicou.

“Também houve um elemento de demanda que pode estar influenciando esses preços. Com o mercado de trabalho aquecido, salários reais em alta, o poder de consumo do trabalhador vem aumentando nos últimos dois anos, é natural que também tenha algum efeito sobre o preço de alimentos. Então eu acredito que fatores como o clima, as enchentes no Rio Grande do Sul, a estiagem no Centro-Oeste e no Norte do país, somado a esses elementos de demanda, podem estar explicando melhor esse comportamento do preço dos alimentos nessa atual conjuntura”, completou o economista.