Brasil pode enfrentar desafios políticos com gestão de Trump

Lula parabenizou o novo presidente e disse querer harmonia

Por Karoline Cavalcante

Posições de Trump exigirão habilidade diplomática do Brasil

Com a posse do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump (Republicano), nesta segunda-feira (20), o Brasil pode enfrentar desafios políticos decorrentes da nova gestão norte-americana. Embora o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), tenha manifestado apoio à adversária de Trump, Kamala Harris (Democrata), as relações bilaterais entre os dois países deverão prevalecer de forma pragmática dado o volume de negócios envolvidos, conforme análise da advogada especialista em direito internacional Hanna Gomes, em entrevista ao Correio da Manhã.

Os desafios, no entanto, deverão ser grandes. No final de 2024, Trump ameaçou impor tarifas de 100% sobre produtos de países membros do Brics, o bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul e outros países, que passará a ser presidido este ano pelo Brasil, caso decidam substituir o dólar americano por outra moeda nas transações comerciais. Lula já havia defendido a criação de um sistema alternativo de pagamento para facilitar as trocas comerciais entre as nações do bloco. Para Gomes, essa postura pode gerar tensões nas relações comerciais e econômicas, já que os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil. “Essa postura pode refletir em outras parcerias, caso seja efetivada, gerando uma verdadeira dança das cadeiras entre as parcerias econômicas e assim afetando a economia mundial”, afirmou.

Impessoalidade

As diferenças ideológicas entre os presidentes, porém, não tendem a afetar as relações bilaterais. Lula e Trump seguem vertentes opostas, mas a expectativa é da manutenção de uma relação pragmática. “Uma vez que a amizade técnica, cooperativa, comercial e diplomática entre Brasil e EUA se prolonga por 200 anos e não é facilmente abalada pelas impressões pessoais dos ocupantes das cadeiras presidenciais. Isso, desde que a impessoalidade e cordialidade sejam mantidas e de forma recíproca”, acrescentou a advogada.

Ainda sem contato direto com o novo presidente norte-americano, o petista parabenizou o republicano pelo novo mandato e desejou que ele faça uma “gestão profícua”.

Sem briga

"Tem gente que fala que a eleição do Trump pode causar problema na democracia mundial. O Trump foi eleito para governar os EUA e eu, como presidente do Brasil, torço para que ele faça uma gestão profícua para que o povo americano melhore e para que os americanos continuem a ser parceiros históricos do Brasil", disse Lula em reunião com ministros de seu governo.

"Da nossa parte, não queremos briga. Nem com a Venezuela, nem com os americanos, nem com a China, nem com a Índia e nem com a Rússia. Nós queremos paz, nós queremos harmonia, nós queremos ter uma relação onde a diplomacia seja a coisa mais importante e não a desavença e não a encrenca", completou.

Em novembro, o Brasil sediará a 30ª Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Mudanças Climáticas (COP30), em Belém. Trump já tem demonstrado que pode dificultar os avanços de políticas ambientais, a exemplo da decisão de retirar os EUA do Acordo de Paris, que é um tratado global com objetivo de reduzir a emissão de gases com efeito estufa (GEE) e minimizar os impactos no meio ambiente. No seu primeiro mandato (2017 - 2021), ele retirou o país pela primeira vez.

Hanna Gomes avalia, no entanto, que a “postura isolacionista” dos EUA sob o governo Trump pode ser “bravata” para impressionar e agradar o público interno, que acabará não se acentuando por muito tempo à medida que os problemas reais forem surgindo.

“Apesar do poderio econômico, os EUA podem sofrer boicotes e golpes multilaterais coordenados e Trump pode ser forçado e frear seu discurso nacionalista”, finalizou a advogada.