Antes da apresentação, pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, da denúncia contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e mais 33 pessoas por tentativa de golpe, o PT tinha a perspectiva de comemorar seu aniversário de 45 anos num cenario de crise, com Luiz Inácio Lula da Silva e seu governo amargando a mais baixa popularidade dos três mandatos do presidente: apenas 24% de aprovação. A denúncia produziu um alívio momentâneo. Desviou o foco da sociedade dos problemas do governo.
Mas, mesmo durante a festa de aniversário, no sábado (22) no Armazém 3 do Pier Mauá na zona portuária do Rio de Janeiro, os principais líderes petistas e ministros do governo não se iludiam. A denúncia coloca momentaneamente os problemas do PT na prateleira da geladeira. Mas não os resolve. Por isso, Lula cogita fazer nos próximos dias mudanças ministeriais. Por isso, já mudou a comunicação do governo, trocando o deputado Paulo Pimenta (PT-RS) pelo publicitário Sidônio Palmeira.
Como já mostrou o Correio da Manhã, novas mudanças ministeriais ainda não aconteceram pela falta de segurança de Lula quanto á fidelidade dos seus parceiros de governo. Na reunião ministerial que fez no dia 20 de janeiro, Lula perguntou pessoalmente aos ministros se seus partidos estariam com ele em 2026. Recebeu respostas vagas. E esse é o problema: trocar significará mesmo maior adesao e apoio?
Cenario
O Correio da Manhã ouviu analistas políticos para entender melhor as perspectivas do cenário.
Para o cientista político Márcio Coimbra, considerando o cenário polarizado brasileiro, a denúncia não mexerá na dinâmica atual. Quem já era a favor, permanecerá fervorosamente e vice-versa. “Eu acho que o governo já tem muitos problemas para lidar. Os problemas da economia são muito sérios e a popularidade do Lula vem caindo no mesmo ritmo que a economia também vem despencando, o dólar vem subindo, ou seja: tudo desajustado”
De acordo com o cientista político André Rosa, professor da Acrópole - Educação Executiva em Relações Governamentais, a denúncia aliviará um pouco a atenção do governo Lula, mas as pesquisas são um “recorte de momento”.
“A qualquer situação, fato novo, fator de curto prazo, as pesquisas se modificam, elas são extremamente voláteis às situações reais do cotidiano do eleitor”, explicou o especialista.
Além disso, Rosa mencionou que as questões de justiça não devem causar um grande impacto, até porque o atual chefe do Planalto já foi preso e isso não o enfraqueceu, inclusive, ganhou as eleições de 2022 quando pôde se candidatar.
Respiro
A professora de Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Mayra Goulart, avalia que a denúncia vai interromper esse cenário de “tempestade perfeita” — termo utilizado para expressar uma combinação de circunstâncias específicas, que acabam por agravar uma situação — que o governo tem enfrentado, pois o tirará do foco por um período. Segundo ela, o momento negativo causado por polêmicas como a da dificuldade de desmentir as notícias falsas sobre a implementação da taxação do Pix, poderia além de enfraquecer a percepção da população, “fragmentar a base aliada”.
Em conversa com interlocutores do governo, a gestão continuará a trabalhar em suas pautas, sem um planejamento específico para entrar no mérito da acusação. Para o cientista político Rócio Barreto, caso o governo decida explorar os aspectos da denúncia, poderá haver um crescimento positivo entre o eleitorado.
“Caso seja feita uma nova pesquisa, agora após a denúncia, após a exploração tanto da situação, a exploração do governo Lula, dos apoiadores do governo Lula, explore de forma bem extenuante essa, essa denúncia, as pesquisas podem mudar o resultado e pode haver uma melhora para o governo Lula e até mesmo uma queda no governo Bolsonaro”, iniciou Barreto. “Uma denúncia é grave, é algo de justiça, a todo momento a TV mostra as tentativas de golpe e tudo que foi denunciado, de tudo que foi exposto nesta denúncia. Se a situação explorar um pouco mais isso daí, os resultados das pesquisas serão completamente diferentes”, finalizou o cientista político.
