Por: Karoline Cavalcante

Silvio Almeida presta depoimento à PF no caso de assédio

Silvio Almeida deu entrevista na véspera do depoimento | Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Na véspera de prestar depoimento à Polícia Federal (PF), o ex-ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, afirmou que a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco “se perdeu no personagem” quando o acusou de importunação sexual. Após cinco meses da denúncia, Almeida falou com detalhes sobre o caso em entrevista ao site UOL. Ele disse ter sido alvo de uma armadilha para desgastá-lo. Em resposta, Anielle, vítima na acusação de assédio, classificou a fala como “inaceitável”.

“A ministra Anielle Franco caiu numa armadilha pela falta de compreensão de como funciona a política. A mesma armadilha que caí também. Eu acho que ela se perdeu no personagem. Quando você tem um cargo de ministro de Estado, a intriga se torna uma arma política e eu tinha uma arma apontada para mim“, declarou o ex-ministro.

Durante a entrevista, que durou mais de uma hora, Silvio Almeida negou veemente o relato de Anielle, de que teria feito sussurros eróticos e passado a mão entre as suas pernas em uma reunião para tratar sobre racismo nos aeroportos, em Brasília. Segundo ele, o encontro foi “tenso” e a ministra foi “extremamente deselegante” devido às divergências sobre o assunto e, a partir disso, orientou a sua equipe a somente tratar de questões relacionadas à política de igualdade racial que estavam dentro dos limites da competência do Ministério dos Direitos Humanos.

”Comecei a dar opiniões e, em determinado momento, ela pega meu braço e fala mais ou menos assim: ‘Em todo lugar você quer dar aula. Aqui não é lugar de dar aula’. Eu me calei. Tinha outro compromisso e saí da reunião. Minha secretária executiva acompanhou o restante (...) Ela fingia ter comigo uma intimidade que nunca teve, falando comigo daquele jeito”, afirmou Almeida.

Silvio disse que nos bastidores, havia comentários de que Anielle se incomodava com o fato dele ser uma referência da área do ministério que ela comanda. Para ele, Anielle participou de “um espalhamento de fofocas e intrigas” sobre o seu comportamento para queimá-lo. “O objetivo talvez fosse minar minha credibilidade, tirar meu espaço em certos círculos da elite carioca, da academia, com pessoas ligadas ao sistema de justiça. Me queimar”, prosseguiu.

Também negou as denúncias de assédio sexual feitas por mulheres que não quiseram se identificar à Organização Não Governamental (ONG) Me Too. Além da professora Isabel Rodrigues, que afirmou ter sido vítima de Almeida durante uma reunião em 2019, quando supostamente foi apalpada por ele. Com o escândalo, o presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) o demitiu da cadeira da Esplanada.

Inaceitável

Nas redes sociais, Anielle rebateu as declarações, afirmando que a tentativa de descredibilizar vítimas de assédio sexual, minimizar suas dores e transformar relatos graves em fofocas e brigas políticas é “inaceitável”.

“Na véspera de prestar depoimento à Polícia Federal como investigado, o acusado escolheu utilizar um espaço público para atacar e desqualificar as denúncias, adotando uma postura que perpetua o ciclo de violência e intimida outras vítimas”, iniciou. “Importunação sexual não é questão política, é crime. Sendo assim, reitero minha confiança na seriedade das investigações conduzidas pela Polícia Federal e reforço meu compromisso com a defesa das vítimas e o combate à violência de gênero e raça”, completou a ministra.

Na semana passada, o ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF), prorrogou por mais 60 dias o inquérito contra o ex-ministro, isso porque a PF pediu mais tempo para concluir as investigações. Entre as diligências pendentes, está a oitiva de Silvio Almeida, justamente prevista para acontecer na tarde desta terça-feira (25).