Por: Gabriela Gallo

Em reunião do Brics, Lula volta a defender desdolarização do bloco

Brics não parecem recuar antes as ameaças de Trump | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) realizou na manhã desta quarta-feira (26) a primeira reunião de sherpas da Presidência Brasileira do Brics. Os sherpas são os negociadores enviados pelos países integrantes do Brics com a responsabilidade de conduzir as discussões que culminarão com a Cúpula de Líderes, marcada para os dias 6 e 7 de julho deste ano, no Rio de Janeiro. Em seu discurso de abertura, sem citar o nome do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o presidente brasileiro criticou o protecionismo econômico e defendeu o multilateralismo entre países.

“O recurso ao unilateralismo solapa a ordem internacional. Quem aposta no caos e na imprevisibilidade se afasta dos compromissos coletivos que a humanidade precisa urgentemente assumir. Negociar com base na lei do mais forte é um atalho perigoso para a instabilidade e para a guerra. Frente a polarização e a ameaça de fragmentação, a defesa consistente do multilateralismo é o único caminho que devemos trilhar”, defendeu o presidente.

Com isso, na intenção de valorizar o sul global, o brasileiro e demais membros dos Brics defendem a desdolarização das transações dentro do bloco econômico. Desde o ano passado, os países que englobam o bloco discutem a alternativa de adotarem uma moeda em comum para realizar o comércio em si, que não seja o dólar. Previsões do Fundo Monetário Internacional apontam que, em 2027, estes países serão responsáveis por 33,9% do PIB (Produto Interno Bruto) mundial, deixando para trás o G7 (grupo dos sete países mais desenvolvidos e industrializados do mundo), que cairá para 28,26%.

“A atual escalada protecionista na área do comércio e investimentos, reforça a importância de medidas que visam superar os entraves da nossa integração econômica. Aumentar as opções de pagamento significa reduzir vulnerabilidade e custos”, completou Lula.

Trump

As declarações do brasileiro ignoram as ameaças de Donald Trump (Republicano) em taxar produtos de países do Brics com altíssimas alíquotas caso tentassem estabelecer uma alternativa ao dólar. Inicialmente Trump ameaçou uma taxação de 100%, mas na última semana, o presidente norte-americano mencionou uma taxação de até 150% nos produtos oriundos dos Brics caso os países criem uma nova moeda ou passem a adotar a moeda chinesa yuan.

“Vocês sabem, os estados do Brics estavam tentando destruir o nosso dólar. Eles queriam criar uma nova moeda. Então, quando assumi, a primeira coisa que disse foi: 'qualquer estado do Brics que sequer mencionar a destruição do dólar será taxado em 150%'”, declarou Trump em um evento da Associação de Governadores Republicanos, em Washington. As informações são da agência russa Tass.

Brics

O Brics é um bloco de cooperação formado por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Iran que, em conjunto, busca alternativas para avançar no desenvolvimento socioeconômico e garantir o crescimento de suas economias. No encontro desta quarta-feira também estavam presentes embaixadores de países-parceiros: Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Malásia, Nigéria, Tailândia, Uganda e Uzbequistão.

Além das questões econômicas, Lula declarou que as prioridades do Brasil no Brics são a preservação do meio ambiente e a paz. “Os Brics também continuarão a ser peça-chave para que os ideais da Agenda 2030, do Acordo de Paris e do Pacto para o Futuro possam ser cumpridos. A presidência brasileira vai reforçar a vocação do bloco como espaço de diversidade e diálogo em prol de um mundo multipolar e de relações menos assimétricas”, declarou.