A escolha de Gleisi Hoffmann para ser a nova articuladora política segue um histórico de manutenção do PT no núcleo do governo, comandando postos-chave. Mas a evolução dos feudos partidários nas três gestões de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2006, 2007-2010 e 2023 em diante) mostra que vários deles, até o hoje oposicionista PL, têm ou já tiveram seus espaços.
Em uma escalada ascendente, hoje os ministros de outras legendas e sem vinculação partidária somam mais da metade dos filiados ao PT, em um placar de 26 a 11.
Por ora, a reforma ministerial de Lula tem se concentrado em trocas "caseiras", em peças do próprio PT ou ligadas ao partido.
Paulo Pimenta (Secretaria de Comunicação), do PT, cedeu a vaga ao publicitário Sidônio Palmeira em janeiro. Nísia Trindade (Saúde), sem filiação, mas ligada ao partido, foi trocada por Alexandre Padilha (PT), até então o responsável pela articulação política. Na sua vaga, entra agora a presidente do PT.
Em seu primeiro mandato, Lula iniciou o governo só com o PT e partidos de esquerda, além de alguns ministros e figuras importantes sem vinculação partidária, entre eles o banqueiro e ex-tucano Henrique Meirelles no Banco Central (o BC à época não tinha status de ministério).
MDB
Só no início do segundo ano, em 2004, foi que Lula fez uma primeira reforma em seu ministério para ingresso de um partido que seguiria até Dilma Rousseff (2011-2016), além de estar aliado atualmente: o PMDB (hoje MDB).
Apesar da relação muitas vezes conturbada, o MDB foi nos dois primeiros governos Lula o aliado preferencial, só havendo um rompimento completo no período do impeachment de Dilma, que foi liderado por duas figuras centrais do partido, o então presidente da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), e o então vice-presidente, Michel Temer.
A aliança se explica pelo fato de o MDB ter sido a sigla de oposição ao regime militar e de, no início da gestão Lula 1, ser uma das maiores do Congresso. As outras duas potências da época, PSDB e PFL, eram arquirrivais do PT.
A evolução do feudo do MDB nas gestões Lula, porém, foi pontuada por algumas crises.
A aliança com o PT chegou a ser negociada ainda na transição de 2002, por José Dirceu (PT), que viria a ser o todo-poderoso ministro da Casa Civil.
Por divergências internas nas duas siglas, Lula acabou desautorizando a aliança num primeiro momento.
Após o rompimento durante o impeachment e os governos Temer e Jair Bolsonaro, o MDB voltou a ser parceiro de Lula, em seu terceiro mandato.
Dessa vez, porém, divide o protagonismo com outras duas legendas de centro e de direita, União Brasil e PSD. Republicanos e PP completam a ala de centro-direita da gestão, controlando 11 ministérios.
PL
Dos grandes partidos de direita, só o PL de Bolsonaro não compõe, naturalmente, o governo Lula. Mas a sigla esteve nos dois primeiros mandatos, bem antes de Bolsonaro se filiar a ela.
Em Lula 1 e 2 e durante Dilma, o PL comandou a área de Transportes, além de ser, então, o partido do vice-presidente, José Alencar. A sigla foi alvo da chamada "faxina ética" da petista em 2011, com a demissão de Alfredo Nascimento da pasta, mas continuou dando as cartas. Hoje, o ministério dos Transportes está com o MDB (Renan Filho).
Ranier Bragon (Folhapress)