Gleisi Hoffmann é oficialmente a nova ministra da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência (SRI). Ela foi empossada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nesta segunda-feira (10), em cerimônia no Palácio do Planalto. A ex-deputada federal pelo Paraná assume no lugar de Alexandre Padilha, que assumiu na mesma cerimônia o Ministério da Saúde. Estavam presentes diversas autoridades, dentre elas, os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, Hugo Motta (Republicanos-PB) e Davi Alcolumbre (União Brasil-AP). Porém, poucos parlamentares do Centrão. Para assumir o ministério, Hoffmann deixou o cargo de presidente do Partido dos Trabalhadores, onde atuou por oito anos.
Em seu discurso de posse, Gleisi destacou que “chegou para somar” e atuar em conjunto com os parlamentares do Congresso Nacional. Ao longo do mandato Lula 3, a ex-presidente do PT acumulou divergências com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na ala econômica. A fim de amenizar publicamente as desavenças entre os dois, ela reiterou que atuará em apoio ao governo, elogiando a atuação do ministro. “Tenho plena consciência do meu papel, que é da articulação política. Eu estarei aqui, ministro Fernando Haddad, para ajudar na consolidação das pautas econômicas do governo”, disso.
Motta e Alcolumbre
No mesmo posicionamento, ela também buscou azeitar relações com os presidentes do Congresso. “Com vocês [Motta e Alcolumbre], quero manter uma relação respeitosa, franca, solidária e direta. Não tenham dúvidas, estarei sempre aqui para conversar, ouvir críticas e acolher sugestões”, afirmou.
Ao Correio da Manhã, a diretora de Relações Governamentais da BMJ Consultores Associados Rebeca Lucena destacou que escolha de Roffmann para a SRI é “um movimento do presidente Lula para preservar o núcleo duro do governo nas mãos de petistas de extrema confiança”.
“A escolha é uma aposta de que a parlamentar – conhecida pelo perfil combativo – assuma uma conduta semelhante à adotada durante a pandemia da covid-19, em que atuou diretamente na construção e principalmente no cumprimento de acordos entre o PT (então na oposição) e Arthur Lira (PP-AL), que comandava a Câmara dos Deputados”, afirmou Lucena.
Ela ainda ressaltou que, além da articulação política, Gleisi “será responsável por executar o cronograma de empenho e liberação das emendas parlamentares de acordo com o plano proposto pelo Congresso Nacional e homologado pelo Supremo Tribunal Federal, e por intermediar o diálogo com os membros do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável (Conselhão)”.
Desafios
O histórico combativo de Gleisi pode vir a se tornar um desafio para a nova ministra, de acordo com o advogado especialista em relações governamentais Isaac Simas. Em conversa com a reportagem, ele avaliou que Gleisi Hoffmann enfrentará dois principais desafios: um pessoal e outro interpessoal.
“O pessoal é mudar a histórica forma aguerrida e combativa dela. Se ela continuar com esse tipo de atuação, ela não vai conseguir ter diálogo com o Congresso para passar a questão do Orçamento e mesmo as pautas de interesse do governo”, destalhou ao Correio da Manhã.
Já o desafio interpessoal se refere ao Centrão, que ansiava pelo posto. “[Há] uma predisposição dos partidos que formam um centrão de antipatia por pura cobiça, e que gostariam de estar nesse papel [de relações institucionais]. Isso pode atravancar um pouco as negociações”, completou Simas.
O cientista político Felipe Rodrigues pontuou que outro desafio da nova ministra será “fortalecer a base governista, fragilizada pela queda na popularidade presidencial e tensões com partidos do Centrão”.
“A aprovação de projetos prioritários como a reforma do Imposto de Renda e a PEC da Segurança Pública dependerá de sua capacidade de construir consensos em um ambiente político cada vez mais fragmentado”, disse Rodrigues.
Questionado pela reportagem, o especialista em relações governamentais Isaac Simas prevê que a atuação de Gleisi Hoffmann no cargo será mediana. “Por mais que ela seja uma pessoa extremamente competente e dentro da política, ela tem essas questões internas de personalidade que historicamente não foram favoráveis à sua pessoa. Já estamos no terceiro ano de mandato [do presidente Lula] e há toda uma gama de problemas de popularidade, enfrentadas pelo governo que facilitam o trabalho da oposição em bater e reclamar e não colaborar com quem está na frente da parceria de assuntos institucionais”, ponderou.