Em meio a divergências, o presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) mencionou nesta terça-feira (11) o presidente dos Estados Unidos da América (EUA), Donald Trump (Republicano) ao falar sobre as expectativas positivas para a economia brasileira. O chefe do Planalto afirmou que não adianta o norte-americano “ficar gritando de lá”, pois não tem medo “de cara feia”. A fala foi feita em evento em Betim, Minas Gerais.
"Nós fizemos a maior política tributária que esse país já viu na história e todo mundo vai ganhar, porque nós não queremos o Brasil para nós, nós queremos o Brasil para vocês. E é por isso que eu digo sempre: não adianta o Trump ficar gritando de lá porque eu aprendi a não ter medo de cara feia", afirmou Lula. Ele ainda aconselhou que o Republicano “fale manso”, pois quer “ser respeitado”. “É assim que a gente vai governar este país”, emendou.
No discurso, Lula também disse querer igualdade entre as nações e reforçou a necessidade de um respeito mútuo entre os países. “Quero sair da Presidência entregando mais do que eu prometi nas eleições. O Brasil passou a ser um país respeitado. O Brasil não quer ser maior do que ninguém, mas o Brasil não aceita ser menor. Queremos ser iguais. Porque, sendo iguais, a gente aprende a se respeitar mutuamente”, afirmou o presidente brasileiro.
Taxação
A declaração acontece na véspera de começar a executar-se a tarifa de exportação de 25% sobre aço e alumínio a todos os parceiros comerciais dos Estados Unidos, incluindo o Brasil. A medida foi assinada por Trump em fevereiro e terá início nesta quarta-feira (12). A confirmação foi feita por meio de um comunicado, pelo porta-voz da Casa Branca, Kush Desai. "De acordo com suas ordens executivas anteriores, uma tarifa de 25% sobre o aço e o alumínio, sem exceções ou isenções, entrará em vigor para o Canadá e todos os nossos outros parceiros comerciais à meia-noite de 12 de março", disse Desai.
Atualmente, o Brasil é o segundo maior vendedor de aço para os Estados Unidos, ficando atrás somente do Canadá. Segundo o Instituto Aço Brasil (IAB) a notícia foi recebida pelo Instituto com “surpresa” e afirmou que a taxação não será benéfica “para ambas as partes”. “Os Estados Unidos importaram, em 2024, 5,6 milhões de toneladas de placas por não dispor de oferta suficiente para a demanda do produto em seu mercado interno, das quais 3,4 milhões de toneladas vieram do Brasil”, explicou o IAB.
Quando a determinação foi assinada, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) afirmou que o governo brasileiro iniciaria as tratativas para reverter a situação. Na semana passada, chegou a se reunir por videoconferência com o secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick, e o representante comercial dos EUA, Jamieson Greer. Na ocasião, ressaltou que o Brasil ocupa o sétimo lugar na lista dos países com maior superávit comercial de bens para os EUA. O Brasil deverá adotar a reciprocidade, sobretaxando também algum produto dos EUA.
Fim da parceria?
Ao Correio da Manhã, a advogada especialista em Direito Internacional Hanna Gomes, afirmou que a reciprocidade é um Direito Internacional Público que norteia todas as relações “e é naturalmente aplicado na manutenção dos contratos entre países”.
“Quando esse princípio precisa ser invocado em discursos e relembrado em avisos é porque estamos diante de flagrante desequilíbrio ou desrespeito. É certo que as investidas tarifárias do presidente Donald Trump contra diversos países não passará impune se continuar em escalada e em tons de ameaça e soberba”, declarou Gomes.
Para ela, apesar da parceria histórica entre as nações, o cenário também poderá abrir oportunidades para o Brasil encontrar novos aliados comerciais. “O que não será difícil caso Trump continue em guerra tarifária com outros países, como México e Canadá, por exemplo, potenciais parceiros econômicos do Brasil”, finalizou a advogada.