Mais uma pesquisa revela as dificuldades enfrentadas pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Um levantamento divulgado na última sexta-feira (14) pelo Ipsos-Ipec mostrou que 58% dos entrevistados afirmam não confiar no atual chefe do Palácio do Planalto, o que representa um aumento de 6 pontos percentuais em relação a dezembro. E a porcentagem daqueles que afirmam confiar caiu de 45% para 40%.
A desconfiança é maior entre aqueles com renda mensal familiar superior a cinco salários mínimos (73%), evangélicos (70%), moradores das regiões Norte e Centro-Oeste (66%), pessoas com idades entre 25 e 34 anos (65%), aqueles com ensino superior (65%) e do sexo masculino (61%). Já a confiança é mais expressiva entre moradores da região Nordeste (55%), pessoas com ensino fundamental (50%), católicos (50%), indivíduos com 60 anos ou mais (50%) e aqueles com renda familiar mensal de até 1 salário mínimo (49%).
Os dados também mostraram que a maneira como Lula está governando o Brasil é desaprovada por mais da metade dos brasileiros (55%), representando um crescimento de 9 pontos percentuais em relação aos 46% registrados em dezembro. A aprovação, por sua vez, diminui 7 pontos percentuais, indo de 47% em dezembro para 40% em março.
O levantamento sobre a administração do presidente revela um aumento de 7 pontos percentuais na avaliação negativa do governo, com 41% dos brasileiros considerando-o ruim ou péssimo, superando pela primeira vez do Instituto a avaliação positiva. Em contraste, a aprovação do governo caiu 7 pontos, de 34% para 27%, enquanto a percepção regular se manteve estável em 30%. Em dezembro de 2024, os números eram 34% de avaliação negativa, 30% regular e 34% positiva.
A pesquisa ouviu 2.000 pessoas com 16 anos ou mais entre os dias 7 e 11 de março, com uma margem de erro de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos.
E o governo?
O analista político da BMJ Relações Governamentais, Érico Oyama, avalia que a pesquisa reflete um cenário já identificado por levantamentos anteriores e destaca as estratégias da atual gestão para melhorar sua avaliação. Para ele, mais do que colocar as medidas em prática, está a preocupação em conceder visibilidade às iniciativas do governo.
“Por isso, em janeiro houve a troca no comando da Secretaria de Comunicação e na última semana Lula consolidou mudanças nos Ministérios da Saúde e da Secretaria de Relações Institucionais. Para Alexandre Padilha, por exemplo, a tarefa principal será conseguir trazer visibilidade ao programa para ampliar o acesso da população a médicos especialistas via SUS, o Mais Acesso a Especialistas”, disse Oyama. “Quanto a Gleisi Hoffmann, por mais que a tarefa principal dela seja conduzir a articulação política com o Congresso, também é esperado um papel de porta-voz da agenda positiva do governo”, completou.
Diagnósticos
Interlocutores do governo informaram ao Correio da Manhã que as razões para a queda de popularidade de Lula estão sendo amplamente discutidas no Palácio do Planalto, com alguns diagnósticos já feitos. O principal ponto identificado é que a população já não vê programas como o Bolsa Família como uma conquista exclusiva do governo Lula e do PT, mas sim como um direito adquirido. Tanto que mesmo com Jair Bolsonaro, que refletia posições opostas, o programa foi mantido. Assim, o governo não pode mais se vender apenas como o garantidor dos benefícios sociais que já existem. Precisa apresentar novas entregas.
Em busca disso, o governo aposta em dois setores centrais: educação e saúde. Na educação, o programa Pé-de-Meia é visto como uma importante inovação social, a única entrega concreta nesse campo até agora. A ideia é impulsioná-lo, além de explorar outras iniciativas semelhantes.
Já na saúde, com a troca de Nísia Trindade por Alexandre Padilha, agora o foco está em concretizar ações e dar mais visibilidade a inovações, como a vacina da dengue, que pode até levar à erradicação da doença.