O Boletim Focus, divulgado nesta segunda-feira (24) pelo Banco Central, trouxe novas projeções sobre a inflação para os próximos anos. Pela segunda vez consecutiva, analistas de mercado consultados pela autarquia revisaram para baixo a estimativa do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para 2025. A expectativa passou de 5,66% na semana anterior para 5,65%, embora os números ainda permaneçam bem acima da meta fiscal estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
A meta para este ano é de 3,00%, com uma margem de tolerância de 1,50 ponto percentual para mais ou para menos, o que significa que o índice não deve ultrapassar 4,50% para ser considerado dentro do esperado. No entanto, as projeções para o ano seguinte também estão acima dos valores almejados.
Embora o índice esperado para 2026 esteja mais próximo da meta, também está acima dela. Pela segunda vez, houve uma alta nas projeções: de 4,48% para 4,50%. Já para 2027, a expectativa de inflação ficou estável em 4%, repetindo o número das últimas cinco semanas. Em 2028, a projeção se manteve em 3,78%.
Surpreender positivamente
Na avaliação do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a inflação deste ano pode "surpreender positivamente". Entre os fatores que podem contribuir para esse cenário, estão a supersafra prevista, o comportamento do câmbio e o cenário geopolítico brasileiro, que, segundo ele, pode se apresentar de forma mais favorável do que as projeções indicam.
“Penso que estaremos numa situação talvez um pouquinho mais confortável na comparação com o ano passado. Não acredito que vai ser fácil nenhum cenário macroeconômico externo, mas na comparação com o ano passado, eu penso que vai ser um pouquinho melhor. E isso pode ajudar tanto na inflação quanto no trabalho do Banco Central”, disse Haddad, durante seminário promovido pelo jornal Valor Econômico, em São Paulo.
Selic
No mesmo evento, o presidente em exercício e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, sugeriu que o Banco Central estude a possibilidade de excluir o preço de alimentos e energia do cálculo para definir a taxa básica de juros, a Selic. A proposta faz referência ao procedimento adotado pelo banco central dos Estados Unidos, o Federal Reserve (FED).
“Se eu tenho uma seca muito forte, uma alteração climática muito grande, vai subir o preço de alimento. E não adianta eu aumentar os juros que não vai fazer chover. Então eu só vou prejudicar a economia”, declarou o Alckmin. “Então, eles excluem do cálculo. Eu acho que é uma medida inteligente, e a gente realmente pode aumentar os juros naquilo que pode ter mais efetividade na redução da inflação”, prosseguiu.
Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC elevou em um ponto percentual a taxa básica de juros, de 13,25% para 14,25% ao ano. Esse movimento representou o maior patamar alcançado pela Selic desde 2016, quando o governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) passou por crise que resultou em seu impeachment.
Em nota, o BC já havia indicado que poderá haver um novo reajuste “de menor magnitude” na próxima reunião, que está marcada para os dias 6 e 7 de maio. O relatório Focus desta segunda-feira manteve a Selic em 15%.
Cenário inverso
Ao Correio da Manhã, o economista-chefe da Andaluz Investimentos, Alex André, destacou que o governo está tentando transmitir a percepção de queda da inflação, mas, na prática, o cenário é o oposto. Ele explicou que o mercado vê o crescimento da inflação à medida que o fiscal se afasta de uma situação extremamente pressionada, com gastos sociais cada vez mais elevados, como o aumento do vale-gás. Além disso, há tentativas de reduzir despesas no orçamento, enquanto o governo busca expandir os gastos sociais.
“O aumento da inflação, apesar do Focus ter registrado queda nas duas últimas leituras, é uma queda muito pequena, muito marginal. Estruturalmente, estamos em um patamar acima da meta do Banco Central, e o BC já deixou claro que vai aumentar ainda mais os juros, que já estão em um patamar muito elevado”, explicou Alex. “Então, o mercado, os analistas, os bancos já colocam previsões de 15% ou até mais, o que coloca uma precificação ainda mais desafiadora para as empresas alavancadas e para a economia em geral, além da captação de crédito no consumo, que acaba reprisando”, afirmou.