Por: Karoline Cavalcante

Galípolo é cobrado por juros altos na Câmara

Galípolo: apesar dos juros, "dinamismo excepcional" | Foto: Kayo Magalhães/Câmara dos Deputados

Em uma cerimônia marcada para comemorar os 60 anos do Banco Central, o presidente da instituição, Gabriel Galípolo, acabou ouvindo críticas dos deputados sobre a política monetária que mantém altas as taxas de juros. Durante a sessão solene na Câmara dos Deputados, Galípolo foi duramente cobrado em relação à atual taxa básica de juros, a Selic, fixada na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) em 14,25% ao ano. O mercado financeiro já indicou, inclusive, que novas altas virão.

O deputado federal Heitor Schuch (PSB-RS), fez um apelo para que o Banco Central reconsidere a taxa, mencionando os impactos da elevação na agricultura familiar. Segundo ele, a indústria de máquinas e equipamentos agrícolas vai parar pois “não tem como continuar” dessa forma.

“Semana passada, houve a maior feira de agricultura familiar em Rio Pardo e não deu um negócio porque ninguém se atreve a comprar uma máquina, por maior ou menor que seja, pagando 15% de juros", afirmou Schuch, referindo-se a uma cidade do seu estado. O deputado também criticou as alterações no Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro).

Ao discursar, o deputado Luiz Carlos Hauly (Podemos-PR), um dos autores da reforma tributária, afirmou que os fundamentos da aplicação da atual Selic estão equivocados, utilizando como base a média dos bancos centrais ao redor do mundo. Para ele, o Brasil não merece pagar 14,25% de juros enquanto os Estados Unidos da América pagam 5,5% e considerou “inaceitável” Galípolo seguir a mesma metodologia do ex-presidente da autarquia Roberto Campos Neto.

“Parem de mentir para o povo brasileiro que a culpa é do déficit público! Não é. O déficit público do ano passado foi mínimo. Os Estados Unidos foi dez vezes maior”, declarou Hauly. “E vocês também são responsáveis por essa situação caótica do povo brasileiro, empobrecido pelas elevadas taxas de juros que vocês praticam, sem ficar vermelho como estão agora”, prosseguiu.

Dinamismo

De acordo com o presidente do BC, tanto na literatura internacional, quanto nas reuniões com outros banqueiros centrais, o questionamento sempre apresentado ao Brasil é sobre como o país está em um patamar de juros restritivo, quando comparado a outros países, e, ainda assim, apresenta um “dinamismo excepcional”. Ele exemplificou a menor taxa de desemprego e o maior rendimento das famílias da série histórica brasileira.

“Isso sugere que talvez os canais de transmissão da política monetária não funcionem com a mesma fluidez que costuma funcionar em outros países, aqui no Brasil, e que eventualmente você precise dar doses maiores de remédio para conseguir o mesmo efeito", explicou Galípolo.

Para ele, é importante e legítima que a discussão sobre política monetária vá ganhando cada vez mais espaço no debate público e mencionou que a comunicação é um desafio enfrentado pela autoridade. Galípolo afirmou, ainda, que há uma estrutura perversa de subsídios cruzados no Brasil. “Alguns grupos conseguem exceções para pagar menos, enquanto uma grande maioria é obrigada a pagar mais em compensação. Nós temos uma série de subsídios cruzados, perversos e regressivos na sociedade brasileira. E talvez para nós, do Banco Central, esses ônus e bônus, essas trocas, sejam mais evidentes”, prosseguiu.

A sessão solene foi sugerida pelo deputado Marcelo Queiroz (PP-RJ), que presidiu o evento, e contou também com a presença de figuras importantes do cenário econômico, como o ex-presidente do BC Alexandre Tombini; o ex-presidente da Câmara e atual presidente da Confederação Nacional das Instituições Financeiras (CNF), Rodrigo Maia; o presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney; o secretário de Reformas Econômicas da Fazenda, Marcos Pinto, e o vice-presidente de Controles Internos e Gestão de Risco do Banco do Brasil, Felipe Prince.