No meio da guerra comercial que envolve os Estados Unidos e a China depois da decisão do presidente estadunidense de impor ao mundo um tarifaço, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu que os países da América Latina e do Caribe se unam em torno da candidatura única de uma mulher da região para o cargo de secretária-geral da Organização das Nações Unidas (ONU).
A declaração foi dada durante a 9ª Cúpula de Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), nesta quarta-feira (9), em Tegucigalpa, capital de Honduras.
A disputa imposta por Trump vem desafiando os mecanismos multilaterais de negociação do planeta. Trump desdenha dessas organizações, inclusive a ONU e tenta forçar que as conversas se tornem bilaterais. Lula é um dos principais defensores do multilateralismo.
"A Celac pode contribuir para resgatar a credibilidade da ONU, elegendo a primeira mulher secretária-geral da organização", afirmou Lula.
Guerra comercial
“Guerras comerciais não têm vencedores”, discursou Lula. Na mesma quarta-feira (9), nos EUA Trump recuava da decisão inicial sobre o tarifaço criando uma sobretaxação igual de 10% para os países, com exceção da China, contra a qual abriu uma guerra. A China resolveu exercer reciprocidade contra os EUA aumentando a taxa de importação dos produtos produzidos no país presidido por Trump. Em contrapartida, Trump resolveu aumentar também a taxa sobre os produtos chineses. Na quarta-feira, essa queda de braço elevava para 104% os preços dos produtos chineses nos EUA e para 125% o valor dos produtos dos Estados Unidos na China.
"A liberdade e a autodeterminação são as primeiras vítimas de um mundo sem regras multilateralmente acordadas. Imigrantes são criminalizados e deportados sob condições degradantes. Tarifas arbitrárias desestabilizam a economia internacional e elevam os preços", destacou Lula. "Quanto mais fortes e unidas estiverem nossas economias, mais protegidos estaremos contra ações unilaterais", prosseguiu o presidente.
Ao todo, a Celac reúne 33 países latino-americanos e caribenhos. A presidente do México, Claudia Sheinbaun, foi na mesma linha de Lula. “Considero que hoje, mais do que nunca, é um bom momento para reconhecer que América Latina e Caribe requerem solidariedade e unidade de seus governos e de seus povos, a fim de fortalecer uma maior integração regional, sempre no marco do respeito mútuo e observância e soberania e independência de nossos países e acordos comerciais que cada um pode ter", disse Sheinbaum.
"Existe uma agenda proposta para a solidão e uma agenda proposta para a ajuda comum. E depende do que escolhemos como prioridade. A agenda da solidão só tem dois nomes: imigrações e bloqueio. A agenda da ajuda comum é mais complexa, mais difícil, mas muitíssimo mais interessante para todos e todas aqui presentes", reforçou o líder colombiano, Gustavo Petro.
Celac
Fundada em fevereiro de 2010, a Celac reúne os 33 países da América Latina e do Caribe que abrangem uma área de mais de 22 milhões de km², o que equivale a cinco vezes o território da União Europeia. A população total somada, de 670 milhões, é o dobro do número de habitantes dos Estados Unidos.
Após a cúpula, Lula retorna ao Brasil, onde deve desembarcar na madrugada desta quinta-feira (10), em Brasília.
Com informações de Pedro Rafael Vilella, Agência Brasil