Em meio à repercussões globais sobre o tarifaço aplicado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (partido Republicano), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o governo federal está acompanhando os desdobramentos do tarifaço dos Estados Unidos com atenção. Ele ainda disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) orientou a equipe econômica do governo a agir com cautela. “Os canais diplomáticos estão abertos, e as conversas com o governo dos Estados Unidos estão acontecendo”, declarou Haddad em conversa com jornalistas no Ministério da Fazenda, nesta quinta-feira (10).
Questionado pela imprensa, o ministro disse que ainda é cedo para eventuais previsões sobre o impacto da política econômica protecionista americana. “Como as coisas mudam a cada 24 horas no plano internacional, não há uma diretriz clara, e as pessoas estão com muita insegurança sobre o que está acontecendo com o governo dos Estados Unidos. Não é possível, nesses poucos dias transcorridos, de fazer uma avaliação criteriosa. Então, qualquer coisa que eu falasse aqui pode ser desmentida amanhã, a depender dos desdobramentos do que vai acontecer”, ponderou o chefe da Fazenda.
No dia 2 de abril, Trump anunciou uma série de tarifas para diversos países, que variavam dependendo do país. No caso do Brasil, foi estabelecida a tarifa de 10% sobre produtos brasileiros, mais os 25% aplicados anteriormente sobre aço e alumínio brasileiro. Nesta quarta-feira (9), o presidente dos Estados Unidos unificou, por 90 dias, todas as taxas a 10%, com exceção da China. A medida, contudo, não faz diferença para o Brasil, que já tinha essa taxa preestabelecida.
Mesmo diante das incertezas com o comércio estadunidense, o ministro da Fazenda reforçou que o Brasil mantém canais de diálogo abertos com os Estados Unidos e destacou que o Brasil vem ampliando, de maneira estratégica e equilibrada, sua presença no comércio internacional. “O Brasil está aumentando o comércio exterior com todos os três grandes blocos, e não um só. Estamos ampliando os mercados abertos dos produtos brasileiros desde o primeiro dia do governo Lula. Isso não vale apenas para commodities, mas também para outros bens e serviços”, ele reiterou.
Pesquisa
Um levantamento da Pesquisa Genial/Quaest aponta que a maioria da população brasileira concorda com o posicionamento do presidente da República em buscar negociar com o governo americano pela diplomacia. A pesquisa ouviu 2.004 pessoas com 16 anos ou mais, entre os dias 27 a 31 de março. Do total de entrevistados, 53% acredita que o Brasil deveria tentar reverter a situação das taxações dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros pela diplomacia e 33% avaliam que o Brasil deveria taxar os produtos norte-americanos de volta. A pesquisa tem um nível de confiança de 95% e margem de erro de dois pontos percentuais.
Questionados sobre qual a opinião referente ao presidente norte americano Donald Trump, 43% têm uma imagem negativa de Trump, 22% têm uma imagem positiva e 23% uma imagem regular do republicano. Quanto ao país Estados Unidos, as opiniões ficam divididas, mas com uma pequena maioria que tem uma imagem boa do país. Isso porque 44% das pessoas ouvidas têm uma imagem positiva dos Estados Unidos, 41% uma imagem negativa e 15% não souberam responder.
LOA
Apesar da imprevisibilidade econômica diante dessas decisões internacionais, a economia interna brasileira tornou-se mais previsível na quinta-feira (10). O presidente Lula sancionou a Lei nº 15.121/2025, que estima a receita e fixa a despesa da União para o exercício financeiro de 2025 – a Lei Orçamentária Anual (LOA) 2025. A medida é sancionada após mais de três meses de atraso por falta de acordo entre poderes Executivo e Legislativo, o que limitou os gastos do governo federal e da iniciativa pública enquanto não era aprovado.
O texto prevê um superávit primário, após compensações, de R$ 14,5 bilhões, respeitando a meta de resultado primário neutro estabelecida na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para 2025. O salário-mínimo está firmado em R$ 1.518, um aumento real (acima da inflação) de 2,5% em comparação com o valor do ano passado.
Lula sancionou o orçamento com dois vetos pontuais. Um de R$ 40,2 milhões que cancelou trechos do orçamento de recursos para locais específicos (cidades ou estados), mesmo que por emendas parlamentares. Segundo o Ministério do Planejamento e Orçamento, essas emendas afetavam despesas discricionárias do Poder Executivo, além de violar regras do arcabouço fiscal. Outro veto é de R$ 2,97 bilhões que seriam destinados em empréstimos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT). A equipe econômica do governo aponta que o valor extrapola o limite legal no máximo (50%) dos recursos do fundo para esse tipo de operação.