Caso o plenário da Câmara dos Deputados confirme o entendimento do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar — que aprovou, na última semana, o parecer favorável à cassação do deputado federal Glauber Braga (Psol-RJ) —, a ex-senadora e primeira suplente da bancada, Heloísa Helena (Rede-RJ), deverá assumir a vaga. A possível substituição causa preocupação no Palácio do Planalto, onde a avaliação predominante é de que sua entrada representaria “um voto a menos” em pautas de interesse do governo.
Heloísa Helena já integrou a base do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Quando senadora, chegou a ser líder do PT. Mas foi expulsa do Partido dos Trabalhadores em 2003, após votar contra a reforma da Previdência. Com uma postura considerada mais radical, acumulava divergências com a sigla e chegou a formar, junto a outros parlamentares, um grupo que sistematicamente contrariava orientações partidárias. No ano seguinte, foi uma das fundadoras do Partido Socialismo e Liberdade (Psol), tendo sido a primeira presidente da legenda. Mais tarde, acabou se desentendendo no próprio Psol e passou a integrar a Rede.
Preocupação
Embora interlocutores do governo considerem que o Executivo tenha questões mais relevantes para tratar no momento, admitiram ao Correio da Manhã que a preocupação com a possível chegada de Heloísa ao Congresso é legítima. Isso porque a ex-senadora mantém, até hoje, uma postura crítica em relação a Lula, que, segundo aliados, pode estar relacionada a um ressentimento pessoal. Quando Lula reconciliou-se com a hoje ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e obteve seu apoio na eleição de 2022, Heloisa não seguiu com o partido e manteve-se distante do atual presidente.
Enquanto o processo ainda não é concluído, Glauber Braga segue em protesto contra o parecer que recomenda sua cassação. Desde a última quarta-feira (9), quando o Conselho de Ética aprovou o relatório, o deputado está acampado no chão do Plenário 5, no Anexo II da Câmara dos Deputados, e completou, na noite desta segunda-feira (14), mais de 140 horas em greve de fome.
Fraqueza
Segundo a equipe médica que o acompanha, uma nova bateria de exames foi realizada. O parlamentar continua ingerindo apenas isotônico, soro e água. Em nota, sua assessoria informou que a preocupação com seu estado de saúde aumenta a cada hora, já que ele começa a apresentar sinais visíveis de fraqueza. Para evitar desgaste adicional, as visitas passaram a ser mais restritas.
Nesta segunda, ele recebeu apoio de diversas lideranças políticas e personalidades públicas. Estiveram com ele a ministra Macaé Evaristo (Direitos Humanos), a chefe de gabinete Lene Teixeira, e a ex-deputada Janete Pietá, hoje vereadora em Guarulhos (SP), entre outros. Cantores como Chico Buarque, Evandro Mesquita, Teresa Cristina e Leoni usaram as redes sociais para defender o mandato do parlamentar, com a hashtag #glauberfica.
“A ministra prestou solidariedade, importante neste momento. Foi uma conversa amena e de pura solidariedade. O apoio de figuras públicas, de políticos e da militância é o que nos dá esperança em tentar reverter esse processo de cassação”, afirmou o deputado.
O parlamentar indicou novamente que seguirá em greve de fome no local até que seu processo seja votado. O presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), ainda não definiu data para pautar o caso, que está atrás da cassação de Chiquinho Brazão (sem partido-RJ) — acusado de envolvimento no assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes —, aprovada pelo Conselho de Ética em 2024, mas ainda não votada em plenário.
A representação contra Glauber (REP 5/24), movida pelo Partido Novo, foi motivada por um episódio em abril de 2024, quando o deputado expulsou, com empurrões e chutes, o youtuber Gabriel Costenaro (MBL) das dependências da Câmara após receber insultos direcionados à sua mãe. Braga afirma ser alvo de perseguição política, articulada pelo ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), em retaliação às denúncias que fez sobre o "orçamento secreto". Segundo ele, Lira teria negociado o parecer favorável com o relator, deputado Paulo Magalhães (PSD-BA), à cassação em troca de apoio para destinar emendas.