O diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Luiz Fernando Corrêa, e o ex-diretor adjunto do órgão, Alessandro Moretti, prestaram depoimento à Polícia Federal na tarde de quinta-feira (17), no âmbito do inquérito que investiga um suposto esquema de espionagem ilegal. As oitivas ocorreram de forma simultânea, na sede da PF em Brasília, com o objetivo de evitar contradições nas declarações dos envolvidos.
Ao receber a intimação na última terça-feira (15), o diretor-geral da Abin emitiu uma nota à imprensa se colocando à disposição das autoridades competentes para prestar quaisquer esclarecimentos, “seja no âmbito administrativo, civil ou criminal, sobre os fatos relatados na imprensa e que remetem a decisões tomadas em gestão anterior da Agência”.
Investigação
Duas situações estão sendo investigadas. A primeira é a utilização política da agência, dentro do que ficou conhecido como “Abin paralela”, o uso da instituição para monitorar adversários. Embora a corporação tenha identificado que o uso ilegal da agência ocorreu durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que agiu com objetivo de monitorar autoridades, jornalistas e ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). A PF apura se houve obstrução das investigações durante a atual gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Devido às suspeitas de envolvimento, Moretti — que ocupava o posto de número dois da instituição desde março de 2023 — acabou sendo exonerado por Lula em 30 de janeiro de 2024. Ele já integrava os quadros da Abin antes da eleição do atual presidente e permaneceu devido à sua proximidade com Corrêa.
Paraguai
Além disso, em março deste ano, dois agentes da Abin afirmaram à PF que houve um ataque hacker aos sistemas do governo paraguaio. Segundo depoimentos divulgados pelo UOL, a ação teria como objetivo acessar informações privilegiadas sobre as negociações envolvendo as tarifas da Usina Hidrelétrica de Itaipu — Historicamente, o Brasil compra do Paraguai parte da energia gerada na usina.
Nas últimas semanas, o presidente Lula convocou Corrêa, o diretor da PF, Andrei Rodrigues, e o ministro da Casa Civil, Rui Costa — a quem o comando da Abin está subordinado — para uma reunião no Palácio do Planalto. Na ocasião, cobrou explicações sobre a operação de espionagem contra o Paraguai.
Quando as notícias vieram à tona, o governo brasileiro prontamente se desvinculou da operação. Uma nota divulgada pelo Ministério das Relações Exteriores atribuiu integralmente a responsabilidade ao governo anterior. Segundo o comunicado, a operação foi autorizada em junho de 2022, durante a gestão passada, e foi oficialmente suspensa em março de 2023, assim que a nova equipe tomou conhecimento do caso. Destacaram que, naquele momento, a Abin estava sob comando interino, já que Luiz Fernando Corrêa, atual diretor-geral, ainda aguardava a aprovação de seu nome pelo Senado — o que aconteceu apenas no final de maio daquele ano.
“O governo do Presidente Lula reitera seu compromisso com o respeito e o diálogo transparente como elementos fundamentais nas relações diplomáticas com o Paraguai e com todos seus parceiros na região e no mundo”, destacou o Itamaraty.