Por: Karoline Cavalcante

Lula e Boric criticam ‘guerra fria’ de Trump

Boric e Lula opuseram-se à guerra comercial entre EUA e China | Foto: Ricardo Stuckert / PR

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebeu nesta terça-feira (22) o presidente do Chile, Gabriel Boric, no Palácio do Planalto, em Brasília. Durante coletiva de imprensa, os líderes criticaram o que veem como uma “guerra fria” entre os Estados Unidos e a China. “A nós, brasileiros, não agrada essa disputa estabelecida pelo presidente [dos Estados Unidos, Donald] Trump. Eu acho que ela não é conveniente para os Estados Unidos, não é conveniente para a China e não é conveniente para nenhum país do mundo”, disse Lula.

Ambos se referem à política protecionista iniciada pelo presidente norte-americano Donald Trump, que impôs uma série de tarifas de importação aos países ao redor do mundo. A China respondeu à taxação com reciprocidade, o que causou irritação em Washington, que estuda pressionar o mundo a reduzir o comércio com o país asiático.

“Eu não quero Guerra Fria. Eu não quero fazer opção entre os Estados Unidos ou China. Eu quero ter relações com os Estados Unidos, eu quero ter relação com a China. Eu quero negociar com todo mundo, eu quero vender e comprar. Fazer parceria”, prosseguiu o líder brasileiro.

Pouco antes, o presidente chileno já tinha colocado o seu país em posição contrária à guerra comercial e à “politização arbitrária do comércio”.

“Defendemos com muita força nossa autonomia estratégica no mundo, tendo relações com diferentes países e regiões sem ter de escolher entre um e outro", disse Boric.

Reunião

No encontro, os líderes assinaram 13 acordos e memorandos de entendimento para ampliar a cooperação entre os dois países em áreas como justiça e segurança pública, defesa, ciência e tecnologia, cultura, pesca e aquicultura, agricultura, pecuária e inteligência artificial. Em nota, o governo chileno já havia adiantado que a reunião visava: consolidar os laços políticos, culturais e para a defesa da democracia e dos direitos humanos; impulsionar o Corredor Bioceânico Vial, rota comercial que unirá o Pacífico e o Atlântico, e expandir o intercâmbio econômico com o Brasil — que é o terceiro sócio comercial do Chile.

Na ocasião, Lula convidou Boric a participar da cúpula do Brics, que acontecerá no Rio de Janeiro, em junho deste ano. Também sugeriu que o presidente do Chile integre a reunião da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), a ser realizada na China no mês de maio. O presidente brasileiro afirmou que, por meio da proximidade do assessor especial para Política Externa, Celso Amorim, com o país asiático, fará uma articulação para conseguir para Boric uma reunião bilateral com o presidente chinês, Xi Jinping.

Proximidade

Após a reunião, as autoridades seguiram para um almoço no Palácio do Itamaraty. A visita oficial de Boric coincide com a primeira celebração do Dia da Amizade entre Brasil e Chile. A data foi instituída por Lula em 2023, durante visita a Santiago, para marcar o início das relações diplomáticas entre os dois países em 22 de abril de 1836.

As atividades continuam com a realização do Fórum Empresarial Brasil-Chile, na sede da Confederação Nacional da Indústria (CNI), em Brasília. O destaque está no projeto Rotas de Integração Sul-Americana, com o Corredor Bioceânico, que liga os portos brasileiros (São Paulo, Paraná e Santa Catarina) aos portos chilenos de Iquique, Mejillones e Antofagasta. A entrega da obra tem conclusão prevista para 2026. “Será um momento fundamental porque fortalecerá os laços de confiança entre os setores público e privado dos dois países. Cada um está em uma ponta: o Chile diante do Pacífico e o Brasil diante do Atlântico. A rota bioceânica permitirá uma aproximação que trará mais empregos e mais renda para os dois países”, afirmou a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet.

Em 2023, o comércio bilateral superou os 12,5 bilhões de dólares. Isso é reflexo do Chile ser o principal exportador latino-americano para o Brasil, e o Brasil ser o segundo maior destino das exportações chilenas. Desde 2022, os países mantêm um Acordo de Livre Comércio, além de mais de 100 acordos bilaterais em vigor.