Médicos de Glauber orientam ingestão de soro devido à greve de fome

Conselho de Ética aprovou cassação do mandato do parlamentar, que está em protesto desde então

Por Karoline Cavalcante

Lula Marques/Agência Brasil
Glauber está sem comer na sala do Conselho de Ética

A equipe médica responsável pelo atendimento ao deputado federal Glauber Braga (Psol-RJ), orientou o parlamentar a iniciar a ingestão de soro “a fim de amenizar os efeitos da greve de fome”. Braga dormiu no chão do plenário 5 do Anexo 2 da Câmara dos Deputados, onde foi realizada, na última quarta-feira (9), a reunião do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar que aprovou o parecer favorável à cassação de seu mandato. Como forma de protesto contra o resultado, o parlamentar afirmou que permanecerá nas dependências do Congresso Nacional até que o julgamento de seu processo chegue ao fim.

Além disso, iniciou uma greve de fome, que, até o momento de publicação desta matéria, soma mais de 40 horas. Em nota divulgada mais cedo, a assessoria de Braga informou que ele está apresentando 91,7 quilos e pressão arterial dentro da normalidade. “Na manhã desta quinta, o parlamentar ingeriu dois copos de isotônico, além de água”, diz o comunicado.

Na tarde desta quinta-feira (10), lideranças religiosas — entre elas Frei David, representantes de religiões de matriz africana, da fé luterana, povos indígenas e de outras tradições — realizaram um ato ecumênico em solidariedade ao deputado. Braga segue sem conceder entrevistas para preservar energia durante o jejum. Por meio de sua assessoria, afirmou que o ato “foi reconfortante”.

Chiquinho Brazão

Diante da repercussão do caso, o atual presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), havia sinalizado ao Psol sua intenção de pautar em breve, o processo de cassação do deputado Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), como forma de buscar “equilíbrio” na condução das decisões do Conselho de Ética.

O processo contra Brazão está aberto há um ano. Ele é acusado de ser um dos mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, em 2018, no Rio de Janeiro. A cassação foi aprovada pelo Conselho de Ética em agosto de 2024, mas até hoje não foi submetida ao plenário.

Segundo interlocutores do Psol ouvidos pela reportagem, Motta se reuniu antes da sessão com a líder da bancada do partido, deputada Talíria Petrone (RJ), e com a presidente nacional da legenda, Paula Coradi. Na ocasião, o presidente da Câmara afirmou que não interferiria no processo de Braga, mas também não criaria obstáculos. No entanto, a legenda avalia que isso não se confirmou, já que a Ordem do Dia teve início apenas às 19h — com três horas de atraso —, após a votação do parecer. A Ordem do Dia paralisa toda e qualquer discussão ou votação das comissões.

Não responde

Ao Correio da Manhã, a deputada federal Sâmia Bomfim (Psol-SP), que é esposa de Glauber, explicou que, ao assumir a presidência da Casa, Motta se comprometeu a iniciar a ordem do dia às 16 horas e encerrar às 20 horas, de modo presencial, suspendendo, assim, a dinâmica adotada anteriormente por Lira. No entanto, na quarta-feira, excepcionalmente, atrasou a abertura.

“Nós ficamos muito indignados com essa posição do presidente Hugo Mota”, afirmou Bonfim. “Ele utilizou dos instrumentos da Mesa Diretora para facilitar o processo de cassação e, desde então, não tem respondido a telefonemas, pedidos de diálogo por parte das nossas lideranças. Nós esperamos que essa postura mude, porque não é possível ignorar que há um parlamentar em greve de fome nas dependências da Câmara”, prosseguiu a parlamentar.

A equipe jurídica de Glauber afirmou, ainda, que definirá nas próximas horas os recursos que serão ingressados. Segundo os advogados, há duas possibilidades em estudo: uma na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara e outra no Supremo Tribunal Federal (STF). Além disso, como forma de pressionar pela reversão da decisão, Psol e PT anunciaram obstrução das votações em plenário.

Braga responde a representação movida pelo Partido Novo, por ter expulsado das dependências da Câmara, com empurrões e chutes, o youtuber Gabriel Costenaro, integrante do Movimento Brasil Livre (MBL), após o influenciador fazer provocações e ofensas direcionadas à mãe do parlamentar. Em resposta, Braga afirma ser alvo de perseguição política orquestrada por Arthur Lira, que teria articulado o resultado do parecer com o relator, deputado Paulo Magalhães (PSD-BA), em troca de recursos do "orçamento secreto”, — quando o envio das emendas parlamentares é realizado sem respeitar critérios de rastreabilidade e transparência.