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Gibiterias em inundação

Por Rodrigo Fonseca

Especial para o Correio da Manhã

Muita editora pequena teve que fechar as portas ou apelar para financiamentos coletivos via Catarse para seguir editando, assoladas pelo preço do papel. Mas o redesenho da economia no início da Era Lula (2023-2026) promete já uma reconfiguração do setor, com a ampliação de novas editoras apostando em títulos cults e pop. Confira:

A SALA DE ESPERA DA EUROPA, de Aimée de Jongh: A interdição de usar câmeras num campo de refugiados da Síria não impediu que a quadrinista holandesa responsável por cults como "Táxi!" usasse seu bloquinho para desenhar a realidades de populações oprimidas na errância, em busca de lar. Sai aqui pela Conrad.

OS PASSAGEIROS, de Mizu Sahara: É um acertaço da Mythos Editora compilar em 180 páginas as sagas amorosas da mangaká (autora de mangás) cujo nome real é Sumomo Yumeka. Em uma série de contos curtos, ela explora mazelas do dia a dia. Numa das tramas, um homem e uma mulher vivem, discretamente, com mágoas que tiveram no passado. Seu único consolo é o momento no qual, sozinhos, compram yakitori em seu restaurante favorito e partem de ônibus. Qual milagre aguardaria os dois após o último ônibus que partiu?

TARTARUGAS NINJA: O ÚLTIMO RONIN, de Kevin Eastman e Peter Laird: Eis aqui uma obra-prima editorial da Pipoca & Nanquim. Sua trama se passa numa Nova York do futuro, transformada em um campo de batalha urbano de alta tecnologia controlado pelo Clã do Pé e seus soldados cibernéticos, uma Tartaruga Ninja solitária embarca em uma missão desesperada para acabar, de uma vez por todas, com a ancestral contenda de sua família. Carregando apenas as lembranças daqueles que se foram, o herói se juntará a novos e velhos aliados para recuperar o domínio dos esgotos… ou morrer tentando.

APESAR DE TUDO: "Malgré Tout" é o título original dessa love story desenhada e escrita por Jordi Lafrebre com ares de filme de Truffaut e editada aqui pela QS Comics num álbum de luxo de colorido primoroso que narra, de trás para frente, os desencontros e encontros de um casal ao longo de décadas: ela uma política; ele um bibliotecário. Entre idas e vindas, o par tem o mar e o amor como seus companheiros.

SUPERCHOQUE, de Reginald Hudlin, Vita Ayala, Denys Cowan e Chris Cross: Um marco da luta antirracista celebrizado por aqui numa série de desenhos animados, o herói elétrico Virgil Hawkis enfrenta bullying e preconceito nesta minissérie que revisita o universo da Milestone Comics. Esse selo editorial marcou os anos 1990 ao dar protagonismo a populações negras. Na trama um vilão flamejante inferniza a vida de Hawkis. A Panini edita aqui. Muito bem, aliás.

RUA, de Renan Lino e Rapha Pinheiro: O título mais tocante da editora Guará em anos. É uma comédia humanas que segue um gari como signo de vida em deslocamento. Num painel de encontros e desencontros, vemos duas irmãs que não conseguem se entender sobre como lidar com a mãe enferma; as aventuras românticas de um jovem artista tentando arrumar sua vida; a relação complicada de um homem com seus pais e sua casa; o desamparo de uma mãe solteira que precisa arrumar um emprego.

KALI, de Daniel Freedman e Robert Sammelin: Sob o crivo cuidadoso de Luciano Cunha (o pai do anti-herói Doutrinador) na produção editorial, a Alta Geeks tem lançado quadrinhos cheios de ação e de inteligência como a saga de uma motoqueira que, ao ser traída, esfaqueada, envenenada e abandonada por sua própria equipe, decide se vingar, de modo bruto.

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