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Variedade é qualidade

Por Rodrigo Fonseca

Especial para o Correio da Manhã

Algumas dependem de catarse para existir. Outras vivem de apostas de risco confiantes na fidelidade de leitores. E há quem tenha uma máquina de mídia por trás. Ou seja, as editoras de HQ brasileiras estão aí metendo as caras, cada uma apelando pra iniciativa de marketing que dá conta de organizar. Mas há diversidade. Nunca houve tanta, aliás. Confira a seguir o que há de novo nas gibiterias.

YASMIN, de Fabiana Mascolo e Saif A. Ahmed: Um preciso investimento da Ed. Zarabatana no multiculturalismo e na arte da ilustradora (Mascolo) que pôs Roma no bolso. Na trama, Yasmin é uma adolescente feliz no Iraque que é capturada pelo exército invasor do Estado Islâmico e vendida como escrava. Finalmente livre, após dois anos em cativeiro, ela se tornou uma pessoa totalmente diferente. Agora Yasmin vai precisar encarar outra luta para se ajustar à vida de refugiada em uma nova cultura. Alternando entre dois períodos da vida da jovem, a graphic novel Yasmin é uma representação poética e, às vezes, visceral dos conflitos de uma família para sempre marcada pelo terrorismo.

SUPERMAN'78, de Robert Venditti e Wilfredo Torres: O veterano autor de "Lanterna Verde" assumiu a tarefa de resgatar a estética criada pelo cineasta Richard Donner (1930-2021) no longa de 1978 do Homem de Aço, com Christopher Reeve (1952-2004), no qual o ethos do fim dos anos 1930 - quando o último filho de Krypton surgiu nas páginas da HQ "Action Comics" 16, de 1938 - foi transportado para a estética da Nova Hollywood. Nesta adaptação, o alien Brainiac, com sua telepatia, é um dos adversários do herói.

RUA, de Renan Lino e Rapha Pinheiro: O título mais tocante da editora Guará em anos. É uma comédia humanas que segue um gari como signo de vida em deslocamento. Num painel de encontros e desencontros, vemos duas irmãs que não conseguem se entender sobre como lidar com a mãe enferma; as aventuras românticas de um jovem artista tentando arrumar sua vida; a relação complicada de um homem com seus pais e sua casa; o desamparo de uma mãe solteira que precisa arrumar um emprego.

ÓPERA NEGRA, de Clara Chotil: A artista gráfica franco-brasileira nos leva a uma viagem no tempo até o universo lírico e canoro de Maria D'Apparecida (1926-2017). Filha de uma empregada doméstica, órfã aos oito anos de idade, trabalhou como professora e fez sucesso como locutora de rádio. Estudou canto lírico, mas foi barrada no Theatro Municipal do Rio de Janeiro por ser negra. Então, foi para a França, onde fez uma carreira brilhante e se tornou cantora do Opera de Paris.

TARTARUGAS NINJA: O ÚLTIMO RONIN, de Kevin Eastman e Peter Laird: Eis aqui uma obra-prima editorial da Pipoca & Nanquim. Sua trama se passa numa Nova York do futuro, transformada em um campo de batalha urbano de alta tecnologia controlado pelo Clã do Pé e seus soldados cibernéticos, uma Tartaruga Ninja solitária embarca em uma missão desesperada para acabar, de uma vez por todas, com a ancestral contenda de sua família. Carregando apenas as lembranças daqueles que se foram, o herói se juntará a novos e velhos aliados para recuperar o domínio dos esgotos… ou morrer tentando.

RECUTA ZERO OMNIBUS: 1965 - 1967, de Mort Walker: Foi um colaço da Mythos compilar em 332 páginas a fase mais politizada do soldado criado em 4 de setembro de 1950, levando sopros da cultura "paz e amor" à cultura militarista dos EUA da Guerra Fria. Nestas tiras aqui compiladas, vemos os planos mais abilolados de Zero para enlouquecer o Sargento Tainha.

O INCIDENTE DE DARWIN, de Shun Umezawa: O texto mais exuberante entre as mangás que a Panini vem lançando por aqui, numa discussão epistemológica sobre os limites da ciência. Seu herói é Charlie, um "humanzé", uma criatura gerada da união DNA de espermas humanos com uma macaca. O garoto cresce brilhante, adaptado à realidade relacional da sociedade até que a frente terrorista chamada Aliança de Libertação Animal resolve cooptá-lo.

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