Por:

Grifes de balãozinho

Por Rodrigo Fonseca

Especial para o Correio da Manhã

Ao preparar seus lançamentos para julho, a Mythos Editora resolveu fazer a felicidade de fãs do Fantasma ao editar um tijolaço de 684 páginas do herói, mas apostando num diferencial: reuniu alguns dos desenhos mais arrebatadores do quadrinista Ray Moore (1905-1984), que delineou o personagem de Lee Falk (1911-1999) em seu universo florestal. Numa lógica similar de valorização de artistas renomados, o site www.lojamythos.com.br resolveu valorizar o cacife de Greg Rucka, escritor californiano responsável por sucessos como "The Old Guard", e pôs em promoção dois gibis com a assinatura dele nos créditos de criação: "Véu" e "Black Magic: O Primeiro Livro das Sombras". Com esse gesto, a companhia quadrinística que traz Tex e Zagor ao Brasil mostra que apostar em grifes consagradas pode ser um caminho de peso pra atrair público leitor e valorizar as HQs como espaço de dramaturgia inventivo.

Há espaço para a América Latina nessa (mercado)lógica graças ao empenho da Ed. HQueria em trazer ao Brasil a obra de uma bamba das artes gráficas da Colômbia: Laura Guarisco. A editora publicou em luxuosa edição a graphic novel "Nido", um dos trabalhos mais aclamados da autora. Nele, fala-se da questão migratória dos refugiados em diversos países. Suas páginas narram com delicadeza o que aconteceu no período chavista na Venezuela, quando a migração passou a mobilizar aquela sociedade. Falando em latinos, a Panini Comics já pôs à venda em seu site (www.panini.com.br) um trabalho deslumbrante do argentino Eduardo Risso ("100 Balas"): "Sgt. Rock vs. O Exército dos Mortos". O desenhista reinventa visualmente um dos mais icônicos heróis de quadrinhos bélicos sobre a II Guerra, apoiando-se num argumento do ator Bruce Campbell, estrela fetiche do diretor Sam Raimi desde "Evil Dead".

Esse gesto de interesse em vozes autorais se reproduz na decisão da mesma Panini Comics de incluir narrativas de artistas geniais como Mark Bagley, Peter David, Ann Nocenti, Kevin Eastman e o brasileiro Danilo Beyruth no arrebatador álbum "Elektra: Preto, Branco e Sangue". É uma coletânea de aventuras da ninja que roubou o coração do Demolidor - e o nosso.

Falando de Kevin Eastman e de seu prestígio indie e industrial, a Pipoca & Nanquim encanta os nostálgicos fãs das Tartarugas Ninja ao editar "O Último Ronin", codesenvolvido por Peter Laird. Eis uma obra-prima editorial. Sua trama se passa numa Nova York do futuro, transformada em um campo de batalha urbano de alta tecnologia controlado pelo Clã do Pé e seus soldados cibernéticos, uma Tartaruga Ninja solitária embarca em uma missão desesperada para acabar, de uma vez por todas, com a ancestral contenda de sua família. Carregando apenas as lembranças daqueles que se foram, o herói se juntará a novos e velhos aliados para recuperar o domínio dos esgotos… ou morrer tentando.

Na tentativa de investir na conexão entre os quadrinhos e as temáticas mais urgentes do Presente, como a batalha contra a intolerância, a editora Nemo resolveu valorizar o pleito do empoderamento feminino ao publicar "Sessenta Primaveras no Inverno", de Aimée de Jongh e Ingrid Chabbert. Encarada hoje como a quadrinista mais inquietante de nosso tempo, a autora holandesa responsável por cults como "Táxi!" une seu talento ao da roteirista francesa Ingrid Chabbert para falar de amor numa fase outonal da vida. No dia em que completa 60 anos, Josy, a protagonista desta joia, recusa-se a assoprar as velas do bolo de aniversário. Ela já está de malas prontas. Havia tomado uma decisão: iria deixar o marido e a casa para recuperar a sua liberdade, ganhando a estrada com a velha Kombi. No caminho, uma paixão inesperada, em todos os sentidos, vai mudar suas perspectivas acerca do futuro.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.