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Quadrinho dos infernos

Versão Clint Eastwood do anti-herói criado em 1992, GunSlinger Spawn vira um fenômeno de vendas ao levar elementos de faroeste a um universo de fantasia. | Foto: Divulgação

Por Rodrigo Fonseca

Especial para o Correio da Manhã

Larva do Capiroto, concebido para ser o representante oficial das hordas do Trem Ruim na Terra, Spawn está se renovando, de olho no futuro, salivando pela tão sonhada nova adaptação de suas peripécias quadrinísticas para a telona, conforme o produtor Jason Blum anunciou no Festival de Locarno de 2022.

Mas a vida do personagem de HQs mais simbólico da revolução visual (e anatômica) da indústria gráfica da década de 1990 parece um pouco mais fácil agora, que uma nova saga - ainda inédita em solo brasileiro - está repaginando sua dramaturgia: o arco "GunSlinger".

O título, que já dispõe de uma revista só dele, faz referência a um novo e feroz anti-herói concebido para trazer elementos de faroeste a um universo de fantasia no qual ação e terror caminham próximos: o pistoleiro Javier. A figura aproximou a mítica do gibi criado há 31 anos por Todd McFarlane (hoje o dono da maior linha de action figures, ou seja, bonecos para colecionadores adultos do mundo) da busca do mercado editorial dos EUA por vigilantes de origem hispano-americana, como se vê agora com o Besouro Azul, recém-chegado aos cinemas, com Bruna Marquezine no elenco.

Lá fora, de cara, as batalhas de Javier contra agentes das trevas e anjos de má índole saem pelo selo Image Comics e venderam 385 mil unidades em sua arrancada, o que representa um best-seller. É uma narrativa escrita pelo próprio McFarlane, com Aleš Kot, e desenhos de Kevin Keane, Brett Booth, Adelso Corona e Philip Tan, com cores de Ivan Nunes, num tom de western à la Clint Eastwood.

Javier, o GunSlinger Spawn, é um pistoleiro que teve seu corpo e sua alma amalgamados a uma força infernal que dá a ele numerosos poderes (sem contar a ampliação de seu gatilho infalível) num Velho Oeste assolado de assombrações. Na atual safra de aventuras de Javier, ele vem ao nosso presente onde enfrenta o demônio Violador (um palhaço assassino) e se une ao Spawn do nosso tempo, Al Simmons, que será a escolha de McFarlane para o tão sonhado longa-metragem que sua grife pop merece. Nos anos 1990, houve uma série de animações com Simmons, que hoje pode ser vista na HBO Max, trazendo o vozeirão de Keith David na boca de Al. Lá está também um filme de 1997, dirigido por Mark A.Z. Dippé, no qual Michael Jai White viveu Simmons. O longa faturou 87 milhões em sua carreira comercial.

No Brasil, a Futuro Editora está fazendo uma campanha de financiamento coletivo no Catarse a fim de publicar um especial de Simmons aqui, numa versão luxuosa. No ano passado, a New Order Editora (https://newordereditora.com/) lançou um belo encadernado para celebrar as três décadas do personagem. É uma coletânea chamada "Hellspawn", com arte de Ashley Wood e Ben Templesmith e tramas de Brian Michael Bendis e Steve Niles, reunindo 16 edições do gibi americano de Simmons, uma figura que revolucionou os quadrinhos.

Há três décadas, a indústria das HQs, acostumada a vigilantes brancos, tomou um baita baque quando leu as aventuras (de timbre antirracistas) de Al Simmons, um fuzileiro naval americano negro. Ele trabalhava para a CIA em missões sigilosas, e, ao ser morto em combate e descer Inferno abaixo, firmava um pacto com um demônio para regressar à Terra. Sua volta tinha um motivo: manter-se perto de seu grande amor, Wanda. Mas o diabo Malebolgia, traiçoeiro, engana Simmons. O acordo que fez era uma desculpa pra que o militar, cheio de proficiências bélicas, fosse transformado num soldado perfeito para as forças das trevas desafiarem a hegemonia de Deus e sua horda de anjos. Ele, ali, deformado pelo fogo infernal, ganhou um traje mascarado, uma capa viva, capaz de servir de arma, e uma série de superpoderes. Nascia ali um novo Spawn, a semente do Mal, renovando uma linhagem de acólitos das Sombras. Mas, por sua paixão, Simmons se revolta, abrindo precedente para uma cruzada, de tons antirracistas, que, até hoje, mobiliza lojas de quadrinhos, agora com o apoio de Gunslinger.

Em julho, durante a feira Comic-Com, em San Diego, Simmons anunciou que cinco novas linhas de gibis em torno do universo Spawn estão em desenvolvimento. A primeira delas é uma nova edição de Gunslinger Spawn escrita por Jimmy Palmiotti e ilustrada por Patric Reynolds. Sua trama se passa na Guerra Civil Americana (1861-1865). Uma outra saga, "No Home Here", leva os diabos de Simmons ao futuro. Fora isso, os bonequinhos de McFarlane estão à venda no Brasil, via Amazon Prime e Shopee.

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