Por: Ana Luiza Albuquerque
Mais uma mulher morreu baleada na manhã desta sexta-feira (22) no Complexo do Alemão, zona norte do Rio de Janeiro. Com isso, sobe para 19 o número de mortes confirmadas após operação policial deflagrada nesta quinta-feira (21) na comunidade. Após ter sido atingida, Solange Mendes da Silva foi levada para o Hospital Estadual Getúlio Vargas, mas não resistiu. Seu corpo será encaminhado ao IML (Instituto Médico Legal).
Em nota, a Polícia Militar afirmou que uma das bases da UPP Nova Brasília foi atacada nesta manhã por criminosos. Segundo a corporação, não houve confronto envolvendo os agentes no local. Depois do ataque, ainda segundo a polícia, a vítima foi encontrada ferida e foi socorrida por policiais militares para o hospital. A operação desta quinta-feira durou cerca de 12 horas, sendo finalizada apenas no fim da tarde.
Participaram da ação 400 policiais do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais), da Polícia Militar, e da Core (Coordenadoria de Recursos Especiais), da Polícia Civil. Também foram utilizados dez blindados e quatro helicópteros. As forças de segurança confirmaram nesta quinta a morte de 16 suspeitos de envolvimento com o crime. Também morreu o cabo Bruno de Paula Costa, 38, baleado enquanto estava trabalhando, em ataque à base da UPP Nova Brasília.
Morreu ainda Leticia Marinho, 50, uma mulher que passava pela região e estava dentro de um carro com o namorado. Ele afirmou ao portal Voz das Comunidades que parou no sinal ao lado de um veículo da polícia e que, então, um policial atirou contra o seu carro. A Polícia Civil diz que está investigando o caso. Durante entrevista a jornalistas, questionado se algum policial foi identificado e afastado pelo fato, o subsecretário operacional da Polícia Militar, Rogério Lobasso, respondeu que primeiro é preciso entender a dinâmica, para então tomar as medidas necessárias.
Durante a operação foram apreendidos uma metralhadora .50, utilizado para tentar derrubar as aeronaves durante as ações, quatro fuzis cal. 7.62, duas pistolas e 56 artefatos explosivos. As ações se estenderam às localidades vizinhas e, na favela da Galinha, em Inhaúma, quatro criminosos que tentavam fugir do Alemão foram presos.
Um quinto suspeito, apelidado de Esquilo, vindo do Pará e conhecido por realizar ataques armados contra policiais, foi preso ferido no Hospital Getúlio Vargas.
Considerando os mortos na quinta-feira, a operação no Alemão foi a quinta mais letal da história do Rio de Janeiro, segundo levantamento do Geni (Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos) da UFF (Universidade Federal Fluminense). Entre as cinco, três ocorreram no governo de Cláudio Castro (PL). Aliado do presidente Jair Bolsonaro (PL), fiador de sua campanha à reeleição, Castro tem adotado um discurso duro em defesa das forças policiais. Ele busca superar as desconfianças de grupos bolsonaristas que não o enxergam como um político de direita, totalmente alinhado ao presidente.
Nas redes sociais, Castro mais uma vez utilizou a operação para se contrapor a seu maior adversário nas eleições, o deputado federal Marcelo Freixo (PSB), a quem chama de "defensor de bandido". "Foi Freixo, seu partido e aliados que proibiram nossas polícias de enfrentar esses bandidos em determinadas áreas. O resultado está aí: bandidos mais seguros e fortemente armados. Mas comigo não tem essa. Polícia se faz com inteligência, investimento, força e boa remuneração", escreveu. Nas redes, o governador lamentou a morte do policial, mas nada falou sobre Leticia Marinho, 50, assassinada dentro de um carro.
O levantamento produzido em maio pelo Geni (Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos) da UFF (Universidade Federal Fluminense), a pedido da Folha de S.Paulo, mostrou que as operações sob Castro são mais letais do que as da gestão de seu antecessor, Wilson Witzel.
Entre agosto de 2020, quando Castro assumiu, e maio de 2022, as forças de segurança do estado realizaram 74 operações com pelo menos três mortes. No total, essas ações resultaram na morte de 330 civis. Eleito governador em 2018, Witzel assumiu com a promessa de dar "tiro na cabecinha" de criminosos que portassem fuzil. Em sua gestão, da qual Castro era vice, foram contabilizadas 104 operações como essas, com 392 mortes de civis.
O estudo foi realizado a partir da base de dados do Geni, alimentada com notícias da imprensa, e abrange a região metropolitana do Rio de Janeiro. Para a produção deste relatório, o Geni comparou os números de sua base de dados com os referentes às mortes por intervenção de agentes do Estado, disponibilizados pelo ISP (Instituto de Segurança Pública).