Por:

Desocupação da Uerj deixa um rastro de insegurança

Por Marcello Sigwalt

Mesmo após terminada a 'guerra' da desocupação (com direito a bombas de efeito moral e uso da força), na última sexta-feira (20), estudantes da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) relatam que o clima de tensão e insegurança que persiste no interior do complexo universitário.

Já a instituição denunciou o sumiço de discos rígidos contendo 'informações sensíveis'. Longe de apresentar normalidade no fluxo de pessoas, o campus da Uerj exibia corredores vazios, ante o reforço do policiamento e a atividade frenética de funcionários de limpeza.

Enquanto não voltam as aulas, estudantes marcaram para essa quarta-feira (25), nova assembleia para deliberar se a greve estudantil está oficialmente encerrada ou será mantida.

Retrospecto

Iniciada a 26 de julho último, a ocupação foi o meio encontrado pelos alunos para protestar contra as mudanças nos critérios para concessão de Bolsa Auxílio Vulnerabilidade Social (BAVS), com maior impacto sobre aqueles estudantes de ampla concorrência em vulnerabilidade social, além de cortes no auxílio-alimentação e alterações, ainda, no auxílio para o material didático, cujo pagamento não mais seria semestral, mas anual.

Esse conjunto de mudanças ameaça a continuidade dos estudos por alunos mais pobres.

Temendo represálias, sob anonimato, dois estudantes admitem ter sofrido violência por seguranças, além de perseguição de professores. O caso mais grave teria sido de importunação sexual, de um segurança contra uma aluna. "Ele [segurança] falou para ela tomar cuidado para não dormir sozinha porque, se dependesse dele, algo iria acontecer".

Mas o clima de terror não se restringe ao efetivo de segurança. Diz a mesma fonte: "A gente estava sempre cobrindo os rostos para não sermos identificados, porque há uma perseguição dentro da universidade. A reitoria pediu uma multa de R$ 10 mil para quem foi reconhecido na ocupação".

Em resposta às acusações, em nota, a Uerj sustentou que "não concorda com qualquer tipo de ameaça ou perseguição e orienta que os alunos busquem os canais das ouvidorias da Uerj e da PM para registrarem suas denúncias, de forma que seja possível a devida apuração".

Sobre os danos ao patrimônio da universidade durante a ocupação, a Uerj admitiu que ainda não identificou os responsáveis. "As equipes de sindicâncias seguem trabalhando para identificar e responsabilizar os envolvidos nos atos de depredação".