Novo laboratório é questionado

Bem antes da crise dos transplantes infectados, Blessing já era da rede

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Escolhido para substituir o laboratório PCS Saleme - envolvido no escândalo criminoso das fraudes com transplantes de órgãos infectados com o vírus da Aids (HIV) - o laboratório Blessing já faturou, sem licitação, R$ 6,2 milhões do sistema público de Saúde do Rio, sem contar outros R$ 5 milhões auferidos, por conta de 17 pagamentos referentes a Termos de Ajuste de Contas (TACs), acionados quando não há cobertura contratual para um serviço prestado. Neste caso, é feito um acordo de comodato, pelo qual a empresa realiza todos os exames solicitados pelo hospital, mas depois cobra do governo (do Rio), mediante a apresentação de comprovantes que atestam as análises feitas. Com a celebração posterior do TAC, o montante é pago ao fornecedor.

O problema é que - aponta reportagem publicada pelo O Globo - nas últimas semanas, o volume de TACs e contratações emergenciais, que deveriam ser excepcionais, é muito superior às licitações da Fundação Saúde, que administra as unidades de saúde do estado.

Na verdade, o Blessing já vinha operando no Hospital Azevedo Lima (HEAL), quando este estava sob gestão de uma Organização Social (OS), e continuou suas atividades nas unidades fluminenses, por solicitação da Fundação Saúde, que passou a administrar o HEAL em abril de 2023, sob o pretexto de que não houvesse "interrupção do serviço público, garantindo-se a indenização", conforme acentuou a diretora administrativa financeira, Alessandra Pereira.

Na época, o escolhido para assumir a diretoria-geral da unidade foi o ortopedista Marcus Vinícius Dias, o mesmo médico que, na última semana, enquanto eclodia a crise dos transplantes infectados, foi nomeado diretor-executivo da Fundação Saúde. .

Quanto a Blessing, a Fundação Saúde adiantou que a documentação enviada pelo laboratório 'está sendo analisada', de modo a "atestar sua capacidade técnica para absorver o volume de exames necessários para atender as 13 unidades da rede previstas nos termos do contrato emergencial".