Barricadas do tráfico: o direito de ir e vir 'cassado'

Google Maps mostra 40 marcações de bloqueios em vias da cidade

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Barricadas: em vez de alerta da amplitude de domínio do crime, 'ponto turístico'

Por Marcello Sigwalt

Seria irônico, se não fosse trágico. Enquanto o cidadão de bem e pagador de impostos está exposto a toda sorte de violência, criminosos são 'bem-sucedidos' na tarefa de erguer barricadas...contra a lei e a ordem, as quais se tornaram, quem diria, 'atração turística', 'marco cultural ou histórico', pela interpretação, no mínimo, equivocada ou admitida pelo Google Maps (gigante mundial de buscar na web) da Região Metropolitana do Rio, que assim apresenta a 'afronta do crime'.

Enquanto na Rua Beira Rio, em Manguinhos, a estrutura que emperra a ação policial é classificada como 'marco histórico', na rua Curuira, em Vicente Carvalho, a aberração criminal é rotulada como 'marco cultural' ou 'atração turística' em Brás de Pina. Tais exemplos são três, entre 40 marcações feitas por internautas no Google Maps que, na verdade, se referem a barricadas instaladas em vias da cidade por traficantes com o propósito explícito de dificultar o acesso da polícia. Uma rápida 'visita' por tais locais é suficiente para dar a dimensão da amplitude das áreas, atualmente, sob o domínio das facções criminosas, que implica a anulação do direito primário de 'ir e vir' de moradores e motoristas que transitam por essas regiões.

Caso a opção seja pelo aplicativo Google Street View - que contempla ao usuário uma visão de 360° de ruas e avenidas - é igualmente possível observar os bloqueios. Para 'facilitar' sua visualização, a ferramenta 'todos os obstáculos' auxilia a identificação das estruturas em localidades como a Estrada do Rio Grande, na Taquara (Zona Oeste), onde proliferam troncos e pneus no meio da rua.

Se preferir lançar mão da 'máquina do tempo' do Street View, pode ser comprovada a instalação de barricadas pontos, como o Entorno da comunidade Cinco Bocas, em Brás de Pina (que integra o Complexo de Israel, na Zona Norte), ou na esquina da Avenida Schultz Wenk com a rua Taborari, cujas barricadas eram ausentes, em três passagens do serviço do Google (2010, 2011 e 2013), mas que passaram a existir em 2018 e 2019 .

Devido aos ataques recentes da criminalidade contra a população - com saldo de três mortos e três feridos civis - o Complexo de Israel, onde há grandes valas para impedir o acesso policial, o que é 'consentido socialmente', mas classificado pelo governador Cláudio Castro como 'ato de terrorismo'.

Em Brás de Pina, uma moradora que pediu para não ser identificada é o retrato do temor que tomou conta do bairro onde fica parte do Complexo de Israel: "Meu filho tem dez anos, e eu não o deixo mais brincar na rua. Minha rua nunca teve barricada. Mas, agora, elas estão por todos os lados. Estamos com medo de sair. Não podemos falar nada e, se a gente denuncia ou chama a polícia, vira alvo desses criminosos. A sensação é que estamos encurralados".