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Caso Marielle: Ronnie pega 78 anos de prisão e Élcio, 59 anos

A pressão do MPRJ e da opinião pública surtiram efeito. O Conselho de Sentença do 4º Tribunal do Juri do Rio de Janeiro condenou os ex-policiais militares Ronne Lessa e Élcio de Queiroz a 78 anos e nove meses de prisão e a 59 anos de prisão e nove meses de prisão, respectivamente, pelos assassinatos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. | Foto: TJRJ

Por Marcello Sigwalt

Sinal de que a pressão do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) - que pedia pena máxima de 84 anos - e da própria opinião pública surtiram efeito, o Conselho de Sentença do 4º Tribunal do Juri do Rio de Janeiro condenou, nessa quinta-feira (31), os ex-policiais militares Ronne Lessa e Élcio de Queiroz a 78 anos e nove meses de prisão e a 59 anos de prisão e nove meses de prisão, respectivamente, pelos assassinatos da vereador Marielle Franco (PSOL) e o motorista Anderson Gomes. Os réus confessos também terão de pagar R$ 706 mil de indenização aos parentes de Anderson e Marielle (Arthur, Ághata Arnaus, Luyara Franco, Mônica Benício e Marinete Silva) e a pagar uma pensão a Arthur, filho de Anderson Gomes, até que ele complete 24 anos, após uma sentença que levou 2.423 dias (seis anos) para ocorrer.

Ao proferir a sentença, a juíza Lucia Glioche, que preside o 4º Tribunal do Juri, fez uma espécie de 'mea culpa', em referência ao tempo decorrido para a conclusão do julgamento: "A Justiça por vezes é lenta, cega, torta, mas chega até para os acusados que acham que jamais serão alcançados pela Justiça".

Em outro trecho, a magistrada admitiu que a "sentença lida agora talvez não traga aquilo que se espera da Justiça. Talvez justiça fosse Marielle e Anderson presentes. Dizemos que vítimas do crime de homicídio são aqueles que ficam vivos, precisando sobreviver, sem a vida daquele que foi arrancado de seu cotidiano".

Mais adiante, a juíza acrescentou que "a sentença que será lida agora se dirige aos acusados aqui presentes e aos vários Ronnies e Élcios que existem na cidade do Rio livres por aí". No processo, os réus foram denunciados pelo Gaeco/MPRJ por duplo homicídio triplamente qualificado, homicídio tentado, e por receptação do Cobalt utilizado no dia do crime, em 14 de março de 2018.

"É um momento histórico para o Ministério Público ter a primeira denúncia de homicídio acolhida integralmente aqui pelo IV Tribunal e importantíssimo para que nós possamos levar adiante o cumprimento do acordo dos réus e que, caso, esperamos que não, mas caso eles descumpram, venham a cumprir a pena integralmente imposta a esse crime", reagiu o coordenador da FTMA/MPRJ, promotor de Justiça Eduardo Morais.

"Hoje estive aqui, em favor de uma pena adequada e realização da verdadeira Justiça nesse caso", afirmou o procurador-geral de Justiça, Luciano Mattos,

Já o promotor de Justiça, Fábio Vieira, classificou como "farsa" o depoimento de Lessa e Élcio diante do júri, refutou que os réus estariam arrependidos, 'mas sim tristes por terem sido pegos'. Os promotores do Ministério Público também destacaram o sangue frio com que o ex-PM relatou o crime.

"Na verdade, eles não estão com sentimento de arrependimento, estão com uma tristeza de terem sido pegos. Estão arrependidos? Não. Porque isso vai beneficiá-los de alguma forma. Isso é uma característica do sociopata. Ele não tem emoção em relação aos outros, não tem sentimento, não valores, não tem empatia", concluiu Vieira.