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Evandro Teixeira deixa legado

Por Marcello Sigwalt

Ícone incomparável do fotojornalismo nacional, o decano Evandro Teixeira nos deixou na última segunda-feira (4), aos 88 anos, por falência múltipla de órgãos, provocada por uma pneumonia. Testemunha ocular de momentos marcantes do país e no exterior nos últimos 60 anos - como do golpe militar no Chile, em 1973, e da morte do poeta Pablo Neruda, daquele país - Teixeira registrou, como ninguém, eventos cruciais da história brasileira, como o golpe militar de 1964; a passeata dos 100 mil, em 1968, contra a ditadura e pela democracia; além dos comícios pelas Diretas (eleição direta para presidente da República), em 1984.

Internado, desde o dia 8 de outubro, na Clínica São Vicente, na Gávea (Zona Sul), onde lutava contra complicações decorrentes de uma pneumonia, Evandro teve seu corpo velado na Câmara de Vereadores, nesta terça (5). Num momento cercado de emoção, a família do fotojornalista fez questão de reunir colegas de sua trajetória vitoriosa na escadaria da Câmara para um último registro com o fotógrafo. Ao final, uma calorosa salva de palmas selou a homenagem ao baiano especial, nascido em 25 de dezembro de 1935, em Irajuba. Precursor do drone, durante o trabalho, carregava a inestimável escadinha, de onde pegava ângulos exclusivos, nas reportagens.

Ao falar, com orgulho, da trajetória do pai, a também fotojornalista e filha mais nova de Evandro, Adriana Almeida, de 56 anos, afirmou que ele, "não só realizou o sonho [de se tornar fotojornalista], como virou um dos fotojornalistas mais consagrados do Brasil e do mundo, uma inspiração para os que buscam a fotografia como um documento da história brasileira".

A neta e também jornalista, Manoela Caldas, lembrou dos ensinamentos do avô: "Nós que conhecemos ele no detalhe, na mesa, nas manias, nos passarinhos, nas gírias, nós somos as maiores devotas dele. Nos ensinou a compartilhar e chamar todo mundo para perto".

Evandro Teixeira começou a carreira, aos 23 anos, em 1958 e, cinco anos depois, ingressou no igualmente icônico Jornal do Brasil, onde trabalhou por longos 47 anos.