Por Marcello Sigwalt
Como ponto alto que marca a passagem do feriado nacional, do Dia da Consciência Negra - comemorado nessa quarta-feira (20) em frente ao monumento a Zumbi dos Palmares - nada melhor do que colocar a ideia secular de igualdade racial sob rodas e de forma permanente.
Pensando nisso, o Ministério da Igualdade Racial, em parceria com o Rio Ônibus - sindicato que representa as empresas de ônibus da capital - e a Coordenadoria de Igualdade Racial do Rio, da Secretaria municipal da Casa Civil, lançaram a campanha contra racismo nos ônibus, intitulada "Transporte é lugar de dignidade", iniciativa que se insere 'Na rota pela igualdade', que prevê a instalação de 4 mil cartazes nos 4 mil coletivos da frota municipal.
Pontuando a ação, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, explica que "essa campanha é para reforçar que o racismo no transporte é inadmissível. Não é normal que pessoas negras sejam mais de 70% da população que já sofreu discriminação racial no transporte público. Precisamos cada vez mais fazer com que as pessoas tenham conhecimento e entendam que o transporte é lugar de dignidade".
Para reforçar a importância das denúncias, cartazes com QR Codes estampados vão remeter à página oficial da campanha: (https://rioonibus.com/igualdaderacial/, que apresenta uma pesquisa do Instituto Locomotiva, segundo a qual, 72% das pessoas já presenciaram alguma situação de racismo em seu transporte diário. Nesse mesmo endereço eletrônico, os passageiros recebem orientação para denunciar casos de discriminação racial, seja ela testemunha ou vítima do crime.
O presidente do Rio Ônibus, João Gouveia, por sua vez, acentua que "estamos numa busca incessante em promover um ambiente inclusivo e humano no nosso setor. Desta vez, temos a honra de contar com a expertise do governo federal para darmos voz às vítimas do racismo. Nosso objetivo é conscientizar passageiros e rodoviários e ressaltar o papel essencial das denúncias para contornarmos a impunidade".
Matizes do preconceito
A profusão de meios de comunicação, proporcionada pelo avanço exponencial da tecnologia, também cumpriu o papel cidadão de expor todos os matizes do racismo, muito mais frequente do que a nossa vã filosofia 'pacifista' poderia supor.
De acordo com dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), um caso de preconceito racial é registrado a cada dez horas no país, o que corresponde a um salto de 127% em 2023, em relação ao anterior. Somente de janeiro a junho deste ano, houve 436 ocorrências do crime, o que representa uma alta anual de 7%.
Na mesma direção, a pesquisa "Percepções sobre o racismo no Brasil" - uma demanda do Instituto de Referência Negra Peregum e do Projeto Seta - conclui que 51% dos brasileiros presenciaram, ao menos, um ato de racismo. Como combate à essa prática, a ata notarial é um documento público que comprova o racismo e permite a abertura de ação criminal.