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Light perde R$ 800 mi por ano com furtos de energia

Prática recorrente de 'gatos' impõe perdas anuais de R$ 800 mi à distribuidora Light | Foto: Divulgação Light

Por Marcello Sigwalt

Responsáveis por impactar negativamente a qualidade do serviço e por imporem riscos à população em geral, os chamados 'gatos' - ligações clandestinas ou gambiarras a fim de que se obtenha acesso gratuito ao insumo básico - acarretam perdas de, ao menos, R$ 800 milhões por ano à distribuidora de energia elétrica Light.

Além dos problemas de descontinuidade do fornecimento do bem e dos prejuízos à companhia, o furto de energia é uma ação criminosa que acaba implicando o aumento efetivo das contas de luz, a título de compensação das mencionadas perdas.

A majoração das tarifas, ao consumidor honesto, é prevista, inclusive pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) - reguladora do setor elétrico - que determina reajustes tarifários a partir da diferença entre a energia disponibilizada (calculada pela previsão de pagamentos compatíveis) e o volume real de arrecadação aferido pelas concessionárias.

Em vez de 'ganho' para 'espertos de plantão', os "gatos" constituem uma variável de encarecimento da energia que chega aos estabelecimentos comerciais de cariocas e fluminenses. A situação endêmica dos 'gatos' é atestada pelo fato de que, nos 31 municípios atendidos pela Light, a média de clientes 'larápios de energia' atinge 35%, o que redunda nos R$ 800 milhões de prejuízo.

Sob o ponto de vista de infraestrutura, os 'gatos' costumam sobrecarregar os transformadores, potencializando o número de curtos-circuitos e interrupções no fornecimento de energia, o que reduz de forma expressiva a qualidade do serviço. Isso sem contar com o aspecto da segurança, devido a sobrecargas que podem provocar riscos de incêndios, explosões e da própria vida dos usuários. Para tornar ainda mais intrincada a situação, a Light encara entraves, como acesso difícil a regiões dominadas pelo crime, que não oferecem qualquer segurança às equipes da companhia.

Sobre a questão, o superintendente de Proteção da Receita da empresa, Bruno Rodrigues, adianta que "não medimos esforços, e as soluções técnicas existem. Mas essa questão só será resolvida com maior interação entre governos, iniciativa privada, sociedade civil e Light. Os clientes precisam compreender que todos os que não fazem "gatos" pagam a conta e são os mais prejudicados".

Ao contrário do que pode supor nossa 'vã filosofia', o recurso aos gatos não é exclusividade dos menos favorecidos economicamente, mas também é praticados pelos mais aquinhoados socialmente. Cada vez é mais comum encontrar "gatos", durante fiscalização em casas e condomínios de luxo, indústrias e lojas das zonas mais nobres das cidades.

Exemplo disso, em junho último, a fraude criminosa foi localizada em um prédio de alto padrão no bairro do Leblon, o mais valorizado da cidade, assim como em uma mansão do Recreio dos Bandeirantes (na Zona Oeste) no final de 2023. Neste caso, as contas do dono do imóvel somavam, nos últimos três anos, um débito que superava R$ 30 mil. Pessoas com alto poder aquisitivo recorrem a aparelhos tecnológicos para roubar energia.