Por Marcello Sigwalt
Retrato prefeito do descaso federal com relação à saúde fluminense, no Hospital do Andaraí, funcionários da Prefeitura - que recém assumiu a gestão da unidade de saúde, juntamente com o Hospital Cardoso Fontes - encontraram um 'pequeno tesouro': um tomógrafo, avaliado em R$ 2 milhões, simploriamente 'esquecido', há, pelo menos, dois anos e meio, em uma caixa, logo abaixo de uma goteira. O equipamento foi o único que estava 'novinho em folha', além de outro já usado e um terceiro quebrado. A intenção da Prefeitura é colocá-lo em funcionamento em 30 dias.
O 'achado' foi registrado, em vídeo, pelo próprio secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, pelo qual é possível notar que o tomógrafo corria o risco de ser danificado pelo vazamento de água. A vistoria municipal também localizou medicamentos vencidos, além de constatarem que todos os elevadores, em mau estado, terão de ser substituídos.
Embora possua a maior rede federal de saúde do país, o Rio, nas últimas décadas tem padecido com o fechamento de leitos e queda de investimentos.
Relatório produzido, há um ano, pelo Ministério da Saúde, atesta os problemas de infraestrutura locais, a exemplo da Casa Rosa, onde funciona a parte de oncologia do Andaraí, cujos equipamentos expostos à corrosão pela chuva, uma vez que a janela do andar estava aberta, as janelas, danificadas e os vidros, quebrados. "Má conservação do patrimônio", sentencia o relatório da Prefeitura.
O primeiro 'pontapé' da reforma do Andaraí deve ser dado no 10º andar do edifício da unidade - interditado por obras inacabadas - que será transformado em um Centro de Tratamento Intensivo (CTI) com 40 leitos.
Mas a meta mais ambiciosa da administração municipal é recuperar totalmente, no prazo de três anos, a infraestrutura desses hospitais, a ponto de obter a certificação de funcionamento do Corpo de Bombeiros, cuja falta é crônica nas instalações de saúde locais. A intenção do município é ampliar o número de leitos, dos 169 atuais, para 450, até janeiro de 2026.
No Cardoso Fontes, o quadro não é diferente, pois a unidade dispõe de apenas 111 vagas de internação, onde várias enfermarias permanecem trancadas com macas, à espera de pacientes que nunca chegam.
Em nota, o Ministério da Saúde afirmou que "o tomógrafo está guardado próximo à sala do Setor de Imagens, onde será instalado. O equipamento não foi montado porque o local depende de adequações da rede elétrica e de refrigeração. O equipamento encontra-se devidamente lacrado, dentro da garantia e sem qualquer dano. Portanto, apto para instalação e uso".
E acrescentou que "vale ressaltar que as mudanças no Hospital Federal do Andaraí (HFA) fazem parte do Plano de Reestruturação, elaborado pelo Ministério da Saúde. O objetivo é ampliar a oferta de serviços, contratação de pessoal, abertura de leitos e a melhoria na qualidade do atendimento prestado à população".