'Escritórios do crime' avançam
De celas, detentos condenados estão fazendo a sociedade de refém
Por Marcello Sigwalt
Se nada for feito, o avanço das organizações criminosas nas penitenciárias brasileiras só deve agravar a situação de insegurança da sociedade, que se sentirá, cada vez mais, refém dos criminosos.
É o que aponta relatório divulgado, na semana passada, pela Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen), órgão vinculado ao Ministério da Justiça e da Segurança Pública, que serviu para esclarecer questões relevantes sobre o domínio de facções do crime nos presídios do país. O documento aponta que o Primeiro Comando da Capital (PCC), de SP, é a mais poderosa organização criminosa do país, seguido do Comando Vermelho (CV), do RJ.
Em números, o CV tem 134 homens no comando de 125 pavilhões prisionais em 25 estados. De modo geral, o estudo anterior, divulgado em novembro, mostra que há no país 1760 pavilhões prisionais sob domínio de um total de 88 facções criminosas. A conclusão óbvia é que as penitenciárias brasileiras hoje desfrutam do 'status' de serem meros 'escritórios do crime organizado', de onde são emitidas ordens para operações violentas.
Contrariando o senso comum de que seriam sinônimo de 'segregação do convívio social', as celas acabam servindo para 'blindar' os criminosos de eventuais ameaças que estes possam sofrer por parte da polícia, da Justiça ou de facções rivais.
Exemplo clássico desse poderio crescente, exibido pelos dados da Senappen, foi a operação deflagrada contra roubos de cargas e de veículos no Rio de Janeiro, ordenados nada menos do que por Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira Mar, há 23 anos preso a centenas de quilômetros de distância, na prisão federal de 'segurança máxima', de Catanduva (PR).
Desmitificando a ideia ilusória de que os presídios federais contariam com um sistema de proteção inviolável e dotado de tecnologias que impediriam a comunicação dos detentos, Beira Mar continua 'livre' para comandar seu negócio do tráfico.
Ordens que partiam de Catanduva chegavam ao presídio Moniz Sodré, no Complexo de Gericinó, em Bangu (Zona Oeste), onde o bandido Cristiano Gregório de Lucena e monitorava, via celular, os movimentos dos bandidos encarregados de executá-las.